Capítulo
29 | capítulo anterior
| capítulo seguinte | índice do livro
"Bernardo Guimarães, o romancista da
Abolição"
O sucesso da telenovela
a Escrava Isaura
Armelim Guimarães
A obra mais popular de Bernardo
Guimarães, "A Escrava Isaura", celebrizou-se indelevelmente não só
pela ampla aceitação do livro, que vem sendo constantemente reeditado há mais
de um século, como também pelas inúmeras adaptações para o palco e
picadeiro de circos, para mambembes, cinema e televisão.
Três foram os seus romances já
aproveitadas pelo cinema: "O Garimpeiro", "A Escrava Isaura"
e "O Seminarista".
"O Garimpeiro" foi filme realizado por volta de 1918, pelo italiano
Vittorio Capellaro, diretor e ator, tendo sido ele próprio o Elias. O papel de
Lúcia coube à atriz Lúcia Tibúrcio, e o Major foi desempenhado por J.
Silveira. O ator Leonel Simi fez dois papéis. A fotografia foi de Paulo
Benedetti. Foi produção muito bem recebida pelo público.
"A Escrava Isaura" foi
filmada duas vezes. O primeiro desses filmes, ainda nos idos do cinema mudo, foi
produzido pela Metrópole Films, em 1929. Seu realizador foi Isaac Saidenberg.
Dirigiu-o Antônio Marques Filho. Coube o desempenho de Isaura à atriz Elisa
Betty; o de Malvina, a Ruty Gentil; o de Álvaro, a Ronaldo de Alencar. Também
trabalhou Rodolfo Mayer (apud "O Globo" de 2 de agosto de 1985). Os
efeitos de luz foram do engenheiro eletricista Joaquim dos Santos. A avant-première
realizou-se no salão vermelho do Cine Odeon, em São Paulo, em 21 de outubro de
1929.
A segunda filmagem de "A
Escrava Isaura" deve-se à U.C.B., produzida em 1949. Nesta, Isaura foi a
consagrada intérprete Fada Sontoro; Leôncio, Graça Mello; Belchior, Sady
Cabral; Álvaro, Cyll Farney; Malvina, Déa Selva; Martinho, Roberto Duval;
Miguel, Manuel Vieira. A direção foi de Eurides Ramos, e a música, de
Radamés Gnatalli. A fotografia foi de Hélio Barroso Neto. Essa fita foi
estreada simultaneamente nos cinemas São Luís, Carioca, Odeon, Roxy e Ideal,
todos do Rio de Janeiro, à meia-noite do dia 31 de dezembro de 1949. Na
véspera, às 10 horas, o Odeon exibiu uma curiosa sessão, originalíssima avant-première,
já que foi dedicada a todas as Isauras, e somente às Isauras, valendo como
ingresso unicamente a comprovação da identidade. Pois, segundo divulgou a
imprensa carioca, nada menso de duas mil Isauras compareceram ao Odeon.
O filme "O Seminarista" é
de 1977, produção da Lynxfilm-Vila Rica Cinematográfica-Embrafilmes, em
cores. Teve a direação de Geraldo Santos Pereira. O papel de Margarida foi
interpretado pela encantadora Louise Cardoso. O seminarista, ou seja, o Padre
Eugênio foi o jovem Eduardo Machado. Trabalharam ainda Nildo Parente, Lídia
Mattos, Liana Duval, Raul Cortez, Xandó Batista, Tony Ferreira, Beth Fischer,
Fernando Caldeira, Urbano Loes, Marcelo Santos Pereira, Vicente Tropia, Vicente
Câmara e Cristina Leal. A adaptação foi de César Mêmolo Júnior.
"O Garimpeiro" foi vertido
para o francês por Victor Orban, que também verteu, para o mesmo idioma,
"Uma História de Quilombolas", também de Bernardo Guimarães.
"A Escrava Isaura" já foi
divulgada na Europa em alemão. Consta ter sido esse romance lançado na China,
em 1977, em edição de 300 mil exemplares.
A estória, em 1976, foi aproveitada
para novela de televisão, numa adaptação de Gilberto Braga. A direção foi
de Herval Rossano e Milton Gonçalves. Isaura foi interpretada pela Lucélia
Santos; o papel de Álvaro foi feito por Edwin Luisi; o de Leôncio, Rubem de
Falco, cujo desempenho mereceu elogio da crítica pela impecável vivência do
senhor lúbrico e autoritário, cínico e cruel.
Vivem o papel de escravos Neuxa
Borges (Rita), Léa Garcia (Rosa), Haroldo de Oliveira (André) e Zeny Pereira (Januária).
Isaac Bardavid foi o desalmado e
implacável capataz Francisco, e Gilberto Marinho o Comendador Almeida.
Estiveram também nessa novela da TV Globo, com bom desempenho, Norma Blum
(Malvina), Mário Cardoso (Henrique), Roberto Pirilo (Tobias), Átila Iório
(Miguel, pai de Isaura), Dari Reis, Ítalo Rossi, Clarisse Abujamra, André
Valli, Carlos Duval, Ângela Leal, Miriam Rios, Beatriz Lira, Lady Francisco,
Elisa Fernandes, Marlene Figueiró, Arnaldo Rocha, Maria das Graças, José
Maria Monteiro, Mário Polimeno, Neusa Juren e Amíris Varonese.
A novela fez sucesso no Brasil e no
exterior. Lamentável apenas foi a abusiva introdução de personagens e de
cenas, desenxabidas estas, que não constam no romance de Bernardo Guimarães.
De acordo com a imprensa, a novela
alcançou índice de audiência que superou, em muito, a de todas as produções
seriadas até então levadas ao vídeo, no Brasil e em todo o mundo, com um
clímax de admiração e aplausos recordistas.
"Nenhuma escrava brasileira foi
tão vendida quanto Isaura. Logo após a sua exibição no Brasil, em 1976 e
1977, a novela conseguiu seus primeiros clientes: Itália, Chile, Austrália,
Iugoslávia, Mônaco, Equador e Portugal. Em 1981, bateu o seu recorde ao ser
vendida para 16 países: Peru, Paraguai, EUA, Canadá, Antilhas Holandesas,
Argentina, Nicarágua, Guatemala, Venezuela, República Dominicana, Costa Rica,
Colômbia, Panamá, El Salvador, Honduras e Bolívia. O mercado se retraiu no
ano seguinte e Isaura foi vendida apenas para Porto Rico, Finlândia e México.
Em 1983, Espanha, Reino Unido, Hungria e China importaram a novela. No ano
seguinte, foi a vez de franceses, belgas, poloneses e suíços se emocionarem
com a saga de Isaura. Em seguida, vieram Turquia, Tunísia e Alemanha. Em 1966,
foi exportada para Bulgária, Grécia, Malásia, Tailândia, Singapura e até
para Albânia.
"Os africanos de Camarões,
Costa do Marfim e Marrocos se revoltaram contra o jugo de Isaura em 1987, junto
com soviéticos, dinamarqueses, cipriotas e jordanianos. Burkina Faso, Senegal,
Togo, Indonésia e Luxemburo torceram pela escrava em 1988. Islândia, Áustria,
Nigéria e Israel compraram a novela em 89. Este foi ano [1990] foi a vez de
Gabão, Benin e Sri Lanka. Nem que descobrisse sua carta de alforria no primeiro
capítulo da novela Isaura teria viajado tanto". ("Folha de
S.Paulo" de 30 de setembro de
1990)
Foi novela vendida para cerca de 150
países, "a mais comercializada até hoje" ("Veja" de 17 de
março de 1993). Em Cuba foi tão apreciada que os caricaturistas brasileiros
apresentavam charges com o Fidel Castro lendo o célebre romance. "Mas é
em Cuba que "A Escrava Isaura" superou todas as expectativas em seus
momentos mais dramáticos. A Federação de Futebol Cubana teve de alterar o
horário das partidas porque o público preferia ficar em casa, com a TV
ligada". (Jotabê Medeiros, em "O Estado de S.Paulo", caderno 2
de 27 de março de 1987, na crônica "O Brasil invade a Rússia".
Da Venezuela vinha estas notícias:
"Além de ter superado nas pesquisas as outras telenovelas locais, "A
Escrava Isaura" tem sido motivo constante de numerosos artigos elogiosos
em todos os jornais e revistas venezuelanos. A novela é transmitida de segunda
a sexta no horário nobre pelo Canal 15, um dos canais oficiais da Venezuela.
Tradicionalmente a programação deste canal é sobretudo do tipo cultural, mas
nunca foi o preferido dos telespectadores. Contudo, desde que começou a
apresentar a superprodução brasileira, chegou inesperadamente ao segundo lugar
na preferência pública e, no tocante às telenovelas, superou todas as outras
produções dos canais comerciais, mantendo-se em primeiro lugar, especialmente
agora que se encontra em seus capítulos culminantes. Esta produção está
dando dores de cabeça aos responsáveis pelas outras emissoras de televisão,
porque sua apresentação está dominando a audiência das outras novelas no
horário nobre de televisão", disse o vespertino 2001. A revista
"Momento" disse que "é fascinante ver na tela este clássico de
literatura". O diretor do Canal 5, Ricardo Tirado, disse que "o êxito
de "Isaura" é tamanho que fico constantemente assombrado pelo número
de cartas que recebo a respeito da novela, além de se cercarem em todos os
lugares em que apareço para me fazerem perguntas sobre a novela.
("Notícias Populares", São Paulo, 14 de setembro de 1981).
Em uma crônica de Maria Lúcia
Rangel no "Jornal da Tarde", de 26 de julho de 1994, lia-se o
seguinte: "O Departamento Internacional da Globo não tem dúvida. Apesar
do sucesso das novelas de Gilberto Braga no Brasil, elas não são vendáveis no
exterior. É que o autor escreve sobre temas muito brasileiros, que enfocam a
sociedade, o papo e a moda do momento. O autor tem duas exceções, e que
exceções! "Dancin Days" e "A Escrava Isaura". Esta, uma
adaptação que se tornou o maior clássico de novelas do mundo. É comparada a
uma espécie de "O Ventou Levou".
Da Polônia, tínhamos estas
notícias: "A Escrava Isaura" supera Shogun. Segundo reportagem da
agência de notícias polonesa PAP, publicada na primeira página do jornal
"Dziennik Polski", a "Escrava Isaura" se transformou no
maior êxito televisivo da Polônia. A novela brasileira conquistou 84% da
audiência, superando os índices de Shogun. Disse a nota: "18 milhões de
telespectadores classificam a novela brasileira de muito boa. O sucesso do
seriado Shogun, que precedeu a estréia da novela, foi largamente superado, num
êxito sem exemplo. É um estrondoso sucesso que cresce a cada capítulo".
("O Globo" de 7 de junho de 1985). "A Escrava Isaura", a
telenovela brasileira que prende ainda as atenções do público em vários
continentes, acaba de ser considerada pelo poloneses o melhor dos materiais
transmitidos neste país nos últimos dez anos", informa a agência Prensa
Latina.
O romance de Bernardo Guimarães ali
se converteu num acontecimento nacional. "A repercussão foi tão grande
que, ainda hoje, podem ser ouvidas no rádio e na televisão algumas das
canções dedicadas à "Isaura", ou ver-se a sua fotografia em muitas
casas desta capital (Varsóvia) ou do interior do país". "O recorde
de "A Escrava Isaura", que a cada semana foi assistida por 28 milhões
de telespectadores -- 86% da audiência nacional -- será bem difícil de ser
batido, apesar da variada programação da TV aqui." ("O Globo"
de 11 de agosto de 1985).
Na Polônia, um navio foi batizado
com o nome de "A Escrava Isaura", segundo informa Carlos Menezes em
"O Globo" de 8 de dezembro de 1992.
Na China, o estrondoso êxito de "A Escrava Isaura" não foi menor.
Milhões de chineses deixavam quaisquer ocupações para assistirem à novela.
É o que informa Liu Huanking, que assevera ter "A Escrava Isaura"
"um sucesso de audiência jamais visto na história da televisão
chinesa" ("O Globo" de 3 de julho de 1985). E mais exigentes
foram ainda os chineses, porque, além do vídeo, desejaram ler o livro de
Bernardo Guimarães, tal como o romancista concebeu. A Senhora Wong, intérprete
da Embaixada do Brasil, e que, com o marido, também integrava a Seção
Brasileira da Rádio Pequim, foi encarregada de verter para o chinês o romance.
L. de A. Nogueira Porto, em "A Escrava Isaura conquista a China" (em
"O Estado de S. Paulo" de 1 de setembro de 1985), falando da
"veia humorística" de Bernardo Guimarães, que se dizia "sempre
perseguido pela Felicidade" -- nome de sua sogra -- comentava: "Pois
bem, a felicidade literária continua a persegui-lo ainda hoje, um século após
seu falecimento, quando a "Escrava", além de convertida em novela
televisionada de sucesso internacional", é traduzida e publicada em séria
numa revista popular da China com tiragem superior a 300 mil exemplares, e, logo
a seguir, publicada em livro, cuja primeira edição foi de 200 mil". Diz o
mesmo jornalista: "A ocasião se oferece para relembrar um pouco a figura
humana e literária do nosso tão olvidado Bernardo Guimarães, que as
gerações novas só conhecem (como aliás a outros escritores da sua época)
através de compulsórias leituras escolares. Quando sonharia o poeta-romancista
mineiro em se tornar um dia em autor de best-seller na China, conhecido,
discutido e aclamado por milhões de chineses?"
Falando de Bernardo Guimarães,
assim observa Carlos Menezes: "Apontado por críticos apressados como
romancista e poeta menor, o fato é que, mais de um século depois, graças à
novela da Rede Globo, sua "A Escrava Isaura" tornou-se um must
internacional: teve edição de 300 mil exemplares na China, onde muita
chinesinha passou a chamar-se Isaura". ("O Globo" de 8 de
dezembro de 1992).
Em todos os países da então União
Soviética, a novela alcançou o mesmo entusiasmo popular. "Os russos viram
"A Escrava" durante a feira televisiva de Cannes, no ano
passado. Foi a ponte. Vladimir Popov (vice-presidente do Comitê Estatal do
Rádio e Televisão da URSS) não considera a novela um gênero menor da cultura
brasileira. "Não se deve ser à toa que ela teve repercussão em todos os
países", pondera. ("O Estado de S.Paulo" de 27 de março de
1987).
Depois dos chineses, albaneses,
húngaros e búlgaros, chegou a hora de os soviéticos se derreterem com a
história de "A Escrava Isaura", primeira obra de ficção da TV Globo
comprada pela URSS". ("O Globo" de 28 de abril de 1987)
Um moscovita, Iu. Viriassov,
escreveu a um jornal russo, não conformando com a exibição da novela em seu
país, pois sua filha de 12 anos ficava "colada à televisão, todas as
noites absorvendo essa fabricação sentimental".
"A carta gerou uma tempestade
de protestos, e centenas de mensagens em defesa de "Isaura" foram
enviadas às redações. 'Oponho-me à opinião de Iu. Viriassov. Não há
por que estar indignado se a sua filha gosta desta novela. Minha neta também
gosta, acompanha a trágica história de "Isaura" com lágrimas nos
olhos. Acho que a novela é boa porque defende sentimentos nobres",
escreveu O. Kondratiev.
Já N. Lochkariova, da cidade de
Ufá, protestou: "Acho que o sr. Viriassov não entende o significado da
palavra 'sentimental', com a qual pretende estigmatizar a novela. Será que a
luta contra a escravatura e o amor puro não passam de coisas
sentimentais?", indagou.
Da cidade de Zarinek, região de
Altai, no Oriente soviético, chegou a carta de S. Glazytcheva: "A novela
brasileira trata de coisas que não perderam a atualidade. Quem renuncia
à bondade e atua desonestamente em benefício pessoal, como alguns personagens
da novela, é um safado!"
Há ainda notícias de crianças que
mudaram o nome de suas bonecas de Natacha ou Macha, tipicamente russos, para
Isaura e Santa (personagens da novela), ou de brincadeiras na escola imitando as
cenas, com repúdio à figura do vilão Leônico (Rubens de Falco).
Mas como se explica este enorme
sucesso em um País que pouco conhece do cinema e da dramaturgia do Brasil? O
crítico de televisão Alexandre Aronov, em artigo no jornal "Iunost"
(Juventude), com certa dose de auto-ironia, arrisca uma idéia: "Eu estava
cepticamente convencido de que o café era a única coisa que valia a pena
comprarmos do Brasil, mas à medida que acompanhava a telenovela "A Escrava
Isaura" foi mudando de opinião. Se você pensa que a estética da novela
é pobre e que tem pouco a ver com a efervescente vida real, observe com mais
cuidado. É a reação do público que realmente consta".
O jornal "Sovietskaia Kultura"
(Cultura Soviética) apresentou uma análise das cartas recebidas, na qual se
verifica que o seriado foi visto por pessoas de todas as idades. Os mais idosos,
segundo a pesquisa, foram atraídos pela clara divisão dos personagens em
positivos e negativos, cada um desempenhando um papel determinado. As pessoas
com mais de 50 anos identificaram aí a boa tradição do cinema antigo. Os
jovens em torno de 20 anos escreveram que "Isaura" transportava-os ao
mundo dos nobres cavalheiros. "As crianças, em cartas muitas vezes
desajeitadas, disseram que a novela funcionou como um conto de fadas,
comparável à Cinderela ou à Rainha das Neves, do conto de Andersen".
Todas essas críticas de unânimes
protestos à rabugice do moscovita Viriassov e as opiniões do povo russo estão
na crônica da Novopress "Crítica à Isaura é sufocada por cartas",
em"O Globo", edição de 17 de julho de 1989.
Uma reflexão: por que "A
Escrava Isaura" superou em preferências por este mundo afora?
Por duas razões principais: pela
realidade histórica do enredo e do tema, e porque a escrava era uma branca.
Descortinando no Velho Mundo o quadro nefando das ferropéias, da chibata e do
tronco aqui aqui neste nosso país, sera natural que comovesse o interesse e
atenções das pessoas que amam a cultura e o estudo das civilizações.
Não sendo negra, a escrava do
romance não alcançaria a popularidade e a admiração precisamente por se
tratar de uma história diferente, original e de engenhosa criatividade, o que
absolutamente não aconteceria se Isaura fosse uma negra, igual às demais da
senzala, fato que no Brasil de então era coisa vulgar, e de todas os dias. O
propósito abolicionista de Bernardo seria frustrado se sua escrava fosse uma
crioula. Seu livro não seria lido nem emocionaria um povo habituado.
Bernardo Guimarães foi perspicaz,
preciso, genial ao conceber sua obra de combate à escravidão. Inteiramente
falhos de atilamento psicológico, e a quo em análise dos
fenômenos literários e sociais observados nos idos do Brasil imperial, andam
os que julgam não ter sido o escritor mineiro um abolicionista porque Isaura
era branca, argumento que toca à ignorância e à ingenuidade. Pois o que
ocorreu foi precisamente o contrário: o romance de Bernardo atingiu, em cheio,
o intento antiescravista porque Isaura era uma branca! Não o fosse, o livro
seria desprezado, por trivialíssimo e desinteressante. Quem, in illo tempore,
iria preocupar-se com a sorte de uma escrava negra? Mas foi pelo hábil condão
de uma branca, filha de uma mulata, que as massas, afinal, sentiram em sei a
dureza do regime da escravidão, e só então tomaram consciência de que o
africano também eram gente! E esse condão providencial e inteligente, só
mesmo um abolicionista como Bernardo Guimarães saberia criar.
A Rede Globo lançou um compacto da
"Trilha Sonora Original da Novela A Escrava Isaura", com composição
de Paulo César Pinheiro, João Mello, Francis Hime, Dorival Caymmi, Moacyr
Santos, Heckel Tavares, Murillo Araújo, Piratini e Caco Velho, com arranjos de
Walter Branco, Francis Hime e Radamés Gnatalli. Tem a participação de Elizeth
Cardoso, de "Os Tincoãs" e de outros intérpretes. Na última das
fiaxas do lado "A", gravou-se a composição "Retirantes",
de Caymmi, que sonorizou o início da cada capítulo.
A novela tem 100 capítulos. Começou
a ser exibida pela TV Globo no dia 11 de outubro de 1976 e terminou em 4 de
fevereiro do ano seguinte. Outras apresentações, no Brasil, foram feitas pouco
tempo depois, em outros horários.
[Nota do editor do site: no dia 18
de outubro de 2004, a Rede Record de Televisão colocou no ar uma nova
gravação da "A Escrava Isaura", que obteve bom índice de
audiência. Site
da novela.]
topo | capítulo anterior
| capítulo seguinte | índice do livro
|
|
Atriz Lucélia Santos, a "Isaura"
Lucélia
Lucélia gravando a novela
Edwin Luisi (Álvaro) e Lucélia
De Falco (Leôncio)
e Lucélia
Edwin Luisi, Lucélia e de Falco
Lucélia
|