ESTUDO REVELA SEMELHANÇAS ENTRE NEGROS, PARDOS E BRANCOS POBRES *
A cor da pele não é fator determinante de dificuldades, afirma pesquisador

Luciana Ackermann


Formado em estatística pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pós-graduado em pesquisa de mercado e opinião pblica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e atualmente cursando MBA em marketing na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Elmo Iorio, de 30 anos, realizou um estudo que demonstra que as dificuldades de pobres, negros, pardos e brancos são bastante semelhantes. De acordo com a pesquisa, a cor a pele de uma pessoa não é determinante.

Iorio trabalhou com dados brutos da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) do IBGE de 2003 e fez tabulações relativas à cor ou raça (branca, parda e preta) das pessoas residentes em àreas urbanas, com renda mensal familiar de até dois salàrios mínimos e uma criança na família.

O principal objetivo do estudo realizado por Iorio foi comparar grupos com o mesmo perfil. O levantamento foi feito tendo como universo cerca de 30 mil pessoas, das quais 55% formada por pardos, 36% por brancos e 8% negros.



DIÁRIO - Qual é o resultado de seu levantamento?

- O estudo mostra que, independentemente da cor, as pessoas que vivem na mesma situação de pobreza têm dificuldades semelhantes. Lembro que na PNAD, as pessoas se autodeclaram brancas, pardas ou pretas.


- Quais os números que podem demonstrar que a cor não é fator determinante na condição de vida?

- Do universo que fez parte do estudo, 43% dos brancos começaram a trabalhar entre os 10 e os 14 anos. A realidade é bastante parecida entre negros e pardos: 44% e 45%, respectivamente. Entre aqueles que começaram a trabalhar entre os 15 e os 17 anos, 25% são brancos; 26%, negros; e 24%, pardos. A maior parte dos brancos, negros e pardos do universo avaliado ou não tem carteira assinada ou trabalha por conta própria: 23% dos brancos, 24% dos negros e 25% dos pardos não têm carteira assinada; e 24% dos brancos, 23% dos negros e 27% dos pardos trabalham por conta própria. As perguntas referentes a trabalho se aplicam para as pessoas maiores de 10 anos na semana de referéncia da PNAD, entre 21 e 27 de setembro de 2003.


- O estudo também abordou a questão educacional? O que a pesquisa mostra?

- Dentro do grupo analisado com as mesmas características, eles freqüentam a escola na mesma proporção. A média de período é de cinco anos para brancos, negros e pardos. Dificilmente algum deles estudou por mais de 15 anos. Têm entre quatro e sete anos de estudo: 28% dos brancos, 28% dos negros e 29% dos pardos. O ensino fundamental foi o curso mais elevado freqüentado por 55% dos brancos, 56% dos negros e 62% dos pardos. Do total, 72% dos brancos, 73% dos negros e 69% dos pardos sabem ler e escrever.

- Em algum momento foi possível identificar diferenças entre os grupos de brancos, negros e pardos?

- Na rede de ensino é possível apontar uma diferença: os negros freqüentam a rede pública em maior proporção do que os brancos. São 88% dos negros e pardos que estudam em escolas públicas, contra os 85% dos brancos. Parece uma diferença pequena, mas estatisticamente é significativa. E é claro que isso gera um impacto, com conseqüências no ingresso à universidade. Querem compensar a baixa qualidade do ensino público básico criando cotas, ao invés de dar condições de competição em igualdade.



* Diário de S. Paulo (20/11/2004)