Alemanha tem primeiros "casamentos gays"

      (Fonte: Folha de São Paulo 02/08/2.001)

         Homossexuais alemães trocaram alianças e tomaram champanhe ontem, quando uma nova lei entrou em vigor, permitindo que casais de pessoas do mesmo sexo sejam registrados oficialmente, apesar da oposição de partidos conservadores.

         Angelika Baldow e Gudrun Pannier, ambas de 36 anos de idade, foram o primeiro casal a ser registrado no distrito de Shöneberg, em Berlim, que há muito tempo é um dos centros da comunidade homossexual alemã.

         "Sinto-me muito bem. Trata-se de um símbolo da tolerância existente em Berlim. É um sonho que se realiza, mas isso é só um começo. Nós ainda não temos os mesmo direitos [que os heterossexuais]", disse Pannier após a cerimônia

         "Estou muito feliz. Não precisamos mais nos esconder. Não somos mais vistos como doentes ou criminosos", disse Martin Beer, que é amigo do casal há muitos anos

         A aura de tolerância que paira sobre Berlim existe desde a década de 1920, quando centros de encontro e clubes destinados ao público homossexual floresceram ao lado dos cabarés da cidade.

         Porém, o homossexualismo foi brutalmente suprimido depois que Adolf Hitler chegou ao poder, em 1933, e os homossexuais foram perseguidos pelos nazistas e enviados a campos de concentração.

         A homossexualidade voltou a encontrar grande liberdade após a Segunda Guerra(1939-1945), mas o homossexualismo masculino 86 deixou de ser considerado um crime no final dos anos 1960 tanto na Alemanha Ocidental quanto na Alemanha oriental. O atual prefeito da capital, Klaus Wowereit, assumiu sua homossexualidade recentemente.

         Outros países europeus, como a França e a Holanda, já possuem leis similares. Alguns Estados dos EUA também permitem a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

         Oposição dos conservadores

         Apesar do apoio maciço da população à iniciativa, conservadores da oposição tentaram bloquear a aprovação do projeto de lei no Parlamento, que foi apresentado por membros dos Verdes alemães e apoiado pelos social-democratas. Os dois partidos compõem a coalizão governamental federal.

         Mas a decisão da Corte Constitucional de Karlsruhe, tomada no mês passado, de não levar em conta os apelos contra a lei feitos pelos Estados da Baviera e da Saxônia, que são dirigidos por partidos conservadores, abriu caminho para sua entrada em vigor. Segundo os apelos, a nova lei seria um ataque aos valores familiares existentes na Constituição. A Corte tomará uma decisão final a esse respeito ano que vem.

         Com a nova lei, os homossexuais que registrarem suas relações terão os mesmos direitos que os heterossexuais. Eles também poderão usar o mesmo sobrenome, e seus parceiros estrangeiros poderão mudar-se para a Alemanha.

         Porém, a lei nãolhes dá direito às deduções de impostos que favorecem os heterossexuais. Eles também não poderão adotar crianças. As re1ações não são oficialmente chamadas de "casamentos". Elas recebem o nome de "parcerias registradas". Houve 15 cerimônias entre homossexuais em todo o país ontem.

         Protesto em Munique

         Associações de defesa dos direitos dos homossexuais criticaram o governo da Baviera porque, na prática, a lei não entrou em vigor no Estado. "Pedimos à Baviera que ponha fim a essa política de perseguição aos homossexuais", disse Manfred Bruns, porta-voz de uma associação de defesa dos direitos dos homossexuais.

         Manifestantes homossexuais fizeram um protesto contra a posição do governo cia Baviera em Munique. Na próxima semana, a Corte Constitucional de Karlsruhe analisará uma ação de grupos de defesa dos direitos dos homossexuais que visa a obrigar a Baviera a aplicar a lei federal.


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