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Biografias


Johannes Gutenberg

  

 (1397 - 1468)

A história da cultura humana está intimamente ligada aos meios de comunicação. Era importante, para a sobrevivência da tribo, que o conhecimento e a experiência dos mais velhos chegassem aos seus descendentes e, na transmissão oral, surgiam lendas e proibições envoltas em mistério.

A natureza, uma incógnita apavorante para o homem primitivo, estava povoada de espíritos que precisavam ser apaziguados através da adoção de procedimentos rituais. Gerações a fio, o universo cultural do homem se alimentou de muitos tabus.

A invenção da escrita deu início à história; tornou-se possível armazenar conhecimentos em uma escala muitas vezes superior àquela até então existente. Surgida entre diferentes povos, a escrita passou a atuar como instrumento de aproximação cultural e social. O domínio crescente sobre a natureza era acompanhado pela utilização de meios que difundiam essas realizações. E, num desenvolvimento inevitável, que durou séculos, o acúmulo de conhecimentos levou ao surgimento do livro. Por milênios este constituiu obra de arte, executado à mão: era escrito por copistas sobre papéis preciosos, com vinhetas, cabeçalhos e margens ricamente ilustrados.

Naturalmente, esta forma de transmitir informações congelava a cultura, porque o objetivo do copista, na prática, era executar um trabalho artístico; o livro constituía um fim em si mesmo, uma obra-prima de artesanato, um testemunho da dedicação religiosa dos monges copistas dos mosteiros da Idade Média. Mas não representava absolutamente um instrumento satisfatório para a transmissão mais rápida de conhecimentos.

Com o advento da indústria, o livro tornou-se objeto de consumo, produzido em larga escala e acessível a todas as camadas da população. Nos dias atuais, diante da avalancha de informações, o homem dificilmente consegue assimilar ou mesmo dar-se conta de novos conhecimentos. E os modernos meios de comunicação de massa o ajudam a selecionar e resumir as informações, traduzindo-as para o nível da vida cotidiana.

Esse último estágio do desenvolvimento dos meios de difusão cultural não é obra de um inventor isolado, mas de uma civilização inteira. Todavia, os processos que o tornaram possível devem-se a um único homem: Johannes Gutenberg, o inventor da impressão por caracteres móveis, o criador da imprensa tal como ainda hoje é empregada.

Na primeira metade do século XV, pairava sobre o mundo europeu o pressentimento obscuro de uma renovação. A civilização medieval, marcada pelas instituições feudais, chegava ao fim. Esse espírito de renovação se apoderava, aos poucos, da vida em todas as suas manifestações, e assumia aspectos diversos em cada país. Enquanto o artesanato italiano evoluía para as perfeitas formas renascentistas, o alemão se dirigia para o caminho da indústria. No fervilhar das atividades mercantis na Alemanha, ganhava corpo uma nova forma de civilização e o declinar da nobreza era acompanhado pela contínua ascensão da burguesia comercial.

Esta civilização técnica e seu espírito utilitarista são expressos de modo perfeito na personalidade de Gutenberg.

A sua figura histórica tem contornos vagos e incertos; as notícias sobre sua vida são fragmentárias e cheias de lacunas, muitas vezes obscuras e contraditórias, e se referem, na maioria das vezes, a contestações de lucros e litígios. Johannes Gutenberg nasceu a 24 de junho de 1397, na Mogúncia (Alemanha). Esta cidade vivia, então, o período mais esplêndido de sua existência, a ponto de ser considerada a primeira do Império. Como sua mãe era de origem burguesa e a nobreza paterna estava em declínio (era o terceiro filho de Friele Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg), o rapaz preferiu chamar-se simplesmente Gutenberg e cedo abandonou sua cidade natal.

É provável, porém, que já tivesse tido ocasião de praticar com o cinzel e o buril, e fosse hábil em trabalhos de oficina e fundição. Sabe-se que em 1424 estava em Strasburgo com o irmão; têm se notícias de sua presença naquela cidade até 1444. De início, a municipalidade de Mogúncia lhe conferia uma certa renda que, posteriormente, com sua recusa em repatriar-se, foi suprimida.

Reduzido à miséria, entrou, ao que parece, na corporação dos ourives e, em 1436, estabeleceu uma espécie de sociedade com três jovens burgueses, com o objetivo de "explorar novas idéias", isto é, explorar uma invenção sua. Discutiu-se por longo tempo a natureza da mesma, considerada um método para aperfeiçoar a fabricação dos espelhos. Espelho era o nome dado a um pequeno livro de devoções manuscrito e gravado sobre tabuinhas de madeira; podia tratar-se, portanto, de um novo método de impressão.

Além do mais, problemas judiciários advindos da morte de um dos sócios fizeram com que transpirassem indícios confirmadores desta hipótese: uma das testemunhas ouvidas em audiência empregou o termo drucken, que em alemão significa imprimir.

O problema de renovar a produção dos caracteres para imprensa devia afligir Gutenberg que começou, presume-se, a executar a impressão xilográfica de pequenos livros. Imprimia sobre o papel com tabuinhas de madeira já gravadas em relevo, método utilizado para as cartas de jogo e para as imagens sacras. Desta forma, cada página constituía uma obra de arte executada a cinzel e exigia um tempo enorme para a produção. A verdadeira invenção da imprensa de caracteres móveis data de 1440: sobre as extremidades de uma pequena haste de madeira ou metal era gravada a forma, em relevo, e investida de uma letra do alfabeto. A letra, embebida em tinta, imprimia sobre o papel a sua imagem.

Os tipos móveis aparecem pela primeira vez na China, no século XI: não suportavam longo uso e mal retinham a tinta; assim, os chineses preferiram a técnica tradicional, mais lenta, porém mais perfeita. Na primeira metade do século XV, época em que Gutenberg introduzia os tipos móveis de metal na Europa, o mesmo fato ocorria no Extremo Oriente.

(Prensa de Gutenberg)

Os impressos que restaram do primeiro período das experiências de Gutenberg são alguns fragmentos compreendidos, como data de origem, entre 1436 a 1450.

O mais antigo é um pedaço de página de um pequeno poema alemão sobre o Juízo Universal, descoberto em 1892; devia ter sido utilizado para a cartonagem de uma encadernação, caso bastante freqüente em uma época na qual o papel era certamente escasso, e todos os fragmentos julgados sem importância eram de alguma forma reutilizados.

Com o mesmo período relacionam-se fragmentos de alguns exemplares da gramática de Hélio Donato, enquanto à segunda fase pertencem a "Bíblia de 36 linhas" (cujo fragmento é um pedaço de pergaminho que chegou aos tempos atuais juntamente com um trecho de um calendário astronômico de 1447) e as Cartas de Indulgência, concedidas por Nicolau V aos cristãos que contribuíam para financiar a guerra contra os turcos (1454).

(Bíblia)

Estas obras, consideradas imperfeitas em relação às posteriores, foram abandonadas e muitas vezes destruídas; é certo que são muito inferiores à sua obra de arte, a "Bíblia de 42 linhas" ou "Bíblia de Mazarino" (assim chamada porque a primeira cópia foi descoberta na biblioteca do Cardeal Mazarino, primeiro-ministro da França durante a minoridade de Luís XIV).

Para imprimir as 1282 páginas e os 3 milhões de letras, Gutenberg, que contava com seis compositores e seis prelos, levou um ano e meio (a obra foi terminada em 1455); mas esse tempo foi considerado excessivo pelo seu sócio Fust, que lhe havia antecipado 500 florins e, em 1455, acusou-o de haver se apropriado do dinheiro.

(John Fust)

Fust, joalheiro de Mogúncia, e Gutenberg trabalhavam juntos desde 1450 (o inventor havia retomado à sua cidade natal por volta de 1448). Muitas vezes tivera que emprestar dinheiro a Gutenberg . Agora, no momento em que o sucesso parecia sorrir-lhe, o tribunal julgou procedente a acusação e a tipografia, penhor do empréstimo, foi-lhe tirada: é expulso, humilhado pelo antigo sócio, reduzido à miséria. A sua "patente" tinha sido perdida. E Fust, com a ajuda de um dos auxiliares de Gutenberg, Peter Schoeffer, montou sua própria editora, terminou de editar as bíblias (a edição havia sido dividida em dois volumes) e as vendeu em pouco tempo; em 1462, nova edição é lançada.

Gutenberg encontrou finalmente um amigo no Doutor Konrad Humery, um dos burgueses ilustres da Mogúncia, homem extravagante, mas que lhe forneceu os meios para reconstruir sua tipografia em 1458. Pouco depois, a região é perturbada pela guerra dos bispos, que termina com o saque da cidade e com a ascensão ao poder do Núncio Apostólico Arcebispo Adolfo de Nassau. Este foi generoso para com Humery, que havia estado entre os seus adversários, e para com Gutenberg, que pôde, assim, terminar com tranqüilidade a sua atormentada existência.

Aquela guerra teve, porém, conseqüências inimagináveis: a tipografia de Fust foi devastada e os operários, que, para se salvarem, espalharam-se pelas cidades vizinhas e fora da Alemanha, instalaram tipografias grandes e pequenas, difundindo pelo mundo a novíssima técnica de impressão.

Gutenberg morreu a 3 de fevereiro de 1468 na miséria, pois recebia do arcebispo 20 medidas de trigo e 2 barris de vinho para manter-se. Foi sepultado na Igreja de São Francisco, junto a seus antepassados. 

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