Mitos coletados por Nimuendaju |
Não é provável que os Botocudos
do século XVIII sejam descendentes dos Aimorés do século
XVI. Os Botocudos são citados sob este nome desde meados do século
XVIII, no extremo leste de Minas, entre 16º e 20º de lat. S.,
e nas partes adjacentes da Bahia e do Espírito Santo. Depois
de lutas prolongadas, seus últimos bandos foram pacificados pelo
Serviço de Proteção aos Índios em 1913. Em
1939, o seu número total estava reduzido a 68 cabeças, pertencendo
50 à tribo Nakrehé do Manhuaçu, transferida para o
Posto Guido Marlière, à margem esquerda do rio Doce.
Os diversos dialetos dos Botocudos, entre si pouco divergentes, formam uma família lingüística à parte.* Meus principais informantes foram, em 1939, os índios Raulino, da tribo Minyã-yirúgn (antigamente no rio Pancas), e Hamát, da tribo Nakpie (antigamente à margem esquerda do rio Doce, acima da fronteira de Minas). |
Tribos
lendárias:
Um
índio estava caçando só, na mata, quando viu debaixo
de uma gameleira um bando de índios desconhecidos: eram os Tombrék
antropófagos. Seu chefe estava ausente. Quando o caçador
se aproximou, eles o agarraram e o mataram. Abriram-lhe o cadáver;
as mulheres retiraram os intestinos e lavaram-nos na aguada, e os homens
lhe esquartejaram o corpo.
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Uma outra tribo lendária é a dos Poyekrégn, chamados também Nem-ron por causa dos seus arcos compridos. São caçadores pacíficos; entretanto, gostam de raptar crianças. Raulino disse-me que são comumente invisíveis, mas que seu pai, uma vez, os viu passar na mata. Eles o chamaram e lhe fizeram presente de um dos dois veados que haviam matado. Um
homem que, com seu filho, estava vagando pelo mato, encontrou-se com os
Poyekrégn que lhe carregaram o menino. O pai voltou para casa sozinho.
Então seus parentes disseram: "Devias ver se podes trazer o menino
outra vez!"
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(*) Ao contrário do que afirma aqui Nimuendaju, parece haver evidências de que os Botocudos estavam lingüística e historicamente ligados aos Aimorés; e ambos, por sua vez, seriam antepassados-parentes dos atuais Krenak, que vivem no município de Resplendor, MG, próximo à divisa com o Espírito Santo. (nota de E. Viveiros de Castro)Ilustração de viagem: Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied - Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GMBH. - Petrópolis: Kapa Editorial, 2001.