RASTROS
O mundo um dia
contar-te-á uma estória
vulgar, escabrosa,
heróica ou inglória,
não sei.
Pegadas no solo árido,
ossos, dejetos, lixo,
papéis amarelecidos
pelo tempo que passou:
Notas, faturas, extratos,
declarações, ofícios, retratos,
em tudo rastros
que revelarão ódio ou amor.
Um poema, um rascunho,
uma carta, um bilhete
feitos de próprio punho
por alguém que sonhou
e por sonhar se permitiu
o luxo de desejar ser
um raio de luar
enfeitando uma vida
ou talvez uma estrela
no céu esquecida.
Rastros, restos, rota, rumo,
leste, oeste, norte, sul,
arco-íris, violeta,
amarelo ou azul;
verde da plantação,
da aurora o vermelho,
apenas e tão somente
um rosto - reflexo no espelho.
Tudo fica. Tudo marca.
Tudo tem razão de ser.
Hoje quero, tu me deixas.
Não te quero, não te queixes!
Tudo é vago, inverossímel.

às vezes só ilusão
e se me iludo
eu te apanho
na mais calma abstração.
Me agasto. Me afasto.
Mas... não me basto.