Compadres: Gostei bastante dos comentários sobre o meu
penúltimo artigo, que tratou do chamado “Vinho dos Mortos”, o qual é
enterrado por alguns meses antes de estar pronto para ser consumido; foram
críticas favoráveis sobre a forma de abordagem, as quais gostei bastante.
Nesse mês falarei sobre enoturismo, modismo que
vem caminhando a passos largos e, afora o esnobismo pontual, vem bem a
calhar para todos aqueles que se divertem com viagem, turismo e, claro,
todas as agruras que o viajante ocasional é obrigado a enfrentar.
Dois são os tipos de enoturismo, na minha ótica
(sei que alguns irão discordar da minha divisão epistemológica!), aquele
voltado para as vinícolas e aquele voltado para o apreciador de vinhos.
Ainda há uma terceira opção, discorrida mais adiante.
No primeiro caso, o voltado para a vinícola,
temos as grandes corporações ou agrupamento de pequenas vinícolas, imbuídas
no espírito de trazer turista para a região produtora de vinho, a exemplo do
vale dos vinhedos no Rio Grande do Sul aqui no Brasil, Bordeaux e Champagne
na França, mas principalmente de forma mais profissionalizada o Napa Valley,
na Califórnia.
Já a segunda opção, é aquele voltado para os
apreciadores do vinho e de suas circunstâncias: o Chile – e seus vales - e
Mendoza na Argentina, que têm um roteiro de charme, onde o turista pode
apreciar a viagem entre essas duas regiões produtoras, desfrutando das
paradas e do inesquecível visual.
Ambas são opções extraordinárias, que inclusive
podem se mesclar a depender da região visitada. Vá lá que viajar a Bordeaux,
conhecer a região, tomar os vinhos nas vinícolas e dormir nos Chateaus
certamente será uma experiência indelével na memória do apreciador vínico.
Mas não é todo mundo que tem cacife para tanto, apenas um pequeno punhado de
amigos ricos, que alvissareiramente lembram de trazer uma garrafa de um bom
vinho adquirido em lojinhas ou em free shops mundo afora.
Há mais uma opção, que é a vigem enológica dos
menos abastados e sortudos – categoria a qual me incluo – onde o praticante
dessa modalidade de turismo vê aquela estradinha de terra, as plantações ao
seu redor e ao adentrar nos portões de entrada da vinícola é surpreendido
com as parreiras sendo trabalhadas com afinco e dedicação e quando vai tomar
a taça daquele vinho reserva da família ofertado pelo produtor... acorda!
Mas não é o momento de ficar triste, pois a viagem se deu na noite anterior,
como veremos adiante.
No meu caso, o périplo foi na casa de um grande
novo amigo, o Procurador do Estado Roberto Pimentel, que se inclui na
categoria dos abastados, mas que oportuniza de vez em quando uma viagem
degustativa dos seus vinhos de várias nacionalidades e procedências para os
amigos pouco abastados – ou seja, eu.
Viajamos bastante! No Alentejo degustei o Monte
do Pintor e um Monsaraz, acompanhado de petiscos (queijos, patês, castanhas,
embutidos e frios) e depois de um filé ao molho caramelizado de vinho do
Porto que simplesmente estava maravilhoso. Receita da querida Márcia, esposa
do abastado aí de cima, que nos recepcionou soberbamente. Antes eu
já tinha me deleitado com uma grandiosa abertura, comecei às margens do
Douro e suas escarpas, chamadas de “terraços”, com uma Quinta do Crasto
Reserva (só faltou o bacalhau!). Já que estávamos na Europa, parti para a
Itália, a velha bota, onde admiramos um Rupestro e um Corvo, um do Norte
outro da Sicília, regiões belíssimas.
Tomei um navio virtual para o Chile (sempre me
falaram que viagem de navio é mais charmosa!), no sempre constante Casillero
del Diablo Carmenere, fazendo uma curva e entrando nas estradas retilíneas
argentinas com a piece de resistence da noite, o Malma Reserva,
produzido em Mendoza. O grand finale foi com um Porto da Real
Companhia Velha Tawny, que acompanhou a sobremesa (bolo de rolo
pernambucano) como nenhuma outra bebida. Excelentes companheiros de viagem!
Um roteiro fenomenal concordam? Dos vinhos
degustados só senti falta do Marquês de Borba que eu tinha guardado para uma
ocasião especial, ofertado graciosamente pelo meu sócio Marcus Mello – o
qual anda fazendo umas viagens rápidas a Portugal e Chile (tomando o Quinta
da Bacalhôa e o Adobe constantemente) – e que tomei uma semana após saber
que Celinha estava grávida e que eu iria ser pai. Certamente, talvez pela
ocasião, foi um dos melhores néctares que tomei nos últimos tempos, sem
sombra de dúvidas.
Essa foi a minha viagem! Espero poder realizar
novamente esse momento divino e mágico que tive ao lado de pessoas
especiais. Viajar é sempre bom, aqui mesmo na Veneza pernambucana, quiçá na
italiana. Acordei ainda sentindo os parreirais, a estradinha de terra e a
gosto do vinho reserva da família... Obrigado aos amigos por oportunizar
essa viagem sem eu ter dispendido valores polpudos. Vamos todos viajar, seja
qual for o tipo de turismo que escolher, vá de espírito aberto, às vezes o
turista passa por alguns apertos.
Ah! Antes que eu esqueça: quem for viajar para
Portugal, em qualquer sentido, não deixe de degustar o Syrah da casa
Ermelinda Freitas, em Palmela, bem pertinho de Lisboa, foi eleito o melhor
tinto do mundo. Até a próxima!