O Macaco Esperto era
realmente um espertalhão e cedo compreendeu que
retiraria vantagem em aliar-se à Cientista Real. A vida
estava muito difícil na floresta - havia pouca comida e
demasiados animais ferozes à solta - e a amizade com a
Girafa Cientista sempre resguardaria o Macaco da fome e
dos ataques inimigos. - Nada como um amigo
importante! - pensou o Macaco, descascando um amendoim.
Durante
algum tempo, o Macaco Esperto matutou na maneira de se
aproximar da Girafa Cientista, e acabou por chegar à
conclusão de que o melhor seria oferecer-lhe os seus
préstimos. E teria de ser muito convincente, é claro.
Assim, num
belo dia de Primavera, logo pela manhã, chegou-se à
porta da Girafa e nela bateu com quantas forças tinha.
A dona da
casa, ocupada a preparar o seu leite com cereais, ficou
contrariada com o banzé, e foi atender, muito zangada.
- Mas,
afinal, o que se passa? Isto são modos de bater à porta
da Cientista Real? - reclamou ela.
- Oh, não!
Oh, não! - respondeu o Macaco, fazendo uma vénia
exagerada. - Perdoai-me V.Exa., mas foi a emoção.
- A
emoção? Qual emoção? - perguntou a Girafa, ao mesmo
tempo que espreitava pela porta, à procura de outras
visitas. - Não estou a ver emoção nenhuma. Aliás,
não está aqui mais ninguém, portanto só podes ter
sido tu quem bateu à porta.
- É claro,
Eminência, fui eu próprio! - esclareceu o Macaco. - A
emoção é este sentimento, esta grande admiração que
nutro por V. Exa. que tão brilhantemente vem
desempenhando o cargo de Cientista Real!
- Ah, bom!
- aprovou a Girafa, olhando o Macaco com mais simpatia. -
Entra, entra. Queres leite com cereais?
- Uma
bananinha caía que nem ginjas! - exclamou o macaco,
animado.
A Girafa
indicou a fruteira que estava em cima da mesa. O Macaco
não se fez rogado e tirou imediatamente uma banana.
- Mas,
então, conta-me lá. - disse a Girafa. - O que te traz
por cá tão cedo?
O outro deu
um pinote e rapidamente se postou diante da Cientista.
- Vim
colocar-me ao inteiro dispôr de V. Senhoria - começou o
Macaco.- Como sabeis, sou muito hábil, matreiro e
engenhoso. Posso ser-vos útil.
A Girafa
torceu o focinho, duvidosa. Mas o Macaco não perdeu uma
migalha do seu magnífico entusiasmo:
- Trepo às
mais altas árvores, onde escuto os segredos mais
sigilosos da floresta. Estou sempre vigilante. Nada me
escapa.
- Isso é
bom... - concordou a Girafa, acenando a cabeça. - E que
mais?
- Tenho
talento para o laboratório e para a cozinha: faço ovos
estrelados, gelatina de morango e mousse de chocolate.
- Então
estás contratado! - disse a Girafa, apertando-lhe a
pata, com os olhos a brilhar. - Serás o meu fiel
assistente-cozinheiro-mordomo.
- Sois
boníssima! - gritou o Macaco. E, sem mais, pulou para
cima da mesa, tomou balanço, deu duas voltas pendurado
no candeeiro e acabou por aterrar sobre o pescoço da
Girafa.
- Eu sou o
quê? - perguntou a Girafa, desconfiada, libertando-se do
abraço do Macaco Esperto.
- Sois
muito bondosa. - explicou o Macaco, enquanto aproveitava
para tirar outra banana. - Vereis que vos hei-de prestar
muitos e valiosos serviços.
- Com
certeza que vais. - concordou a Girafa, com um sorriso
nos lábios. - E, quanto a mim, penso que isto merece uma
comemoração.
- Pois
comemoremos! - aceitou o outro, felicíssimo.
- Prova um
pouco deste precioso néctar. - ofereceu a Cientista
Real, estendendo-lhe um cálice cheio de um liquidozinho
alaranjado.
Guloso, o
Macaco não hesitou, e em poucos segundos bebeu tudo.
- Gostaste?
- perguntou a Girafa Cientista, atenta às reacções do
Macaco.- Como te sentes?
O Macaco
abriu a boca para responder, mas nada conseguiu dizer,
pois foi acometido de um arrepio que o percorreu desde a
moleirinha até ao rabo. De imediato começou a
transformar-se, perante o olhar deliciado da nossa amiga
Girafa Cientista: o seu tamanho, bruscamente diminuíu; o
corpo, de penas verdes, vermelhas e azuis se cobriu; e a
boca, num bico forte e adunco se tornou. Empertigado, o
Macaco - ou melhor, o animal em que este se transformara,
- balançou sobre as patas traseiras, com os olhos muito
espantados, e agitou levemente as asas, ansioso.
- Um
triunfo! um triunfo! - gritou a Girafa, batendo palmas. -
Meu fiel assistente, transformei-te num genuíno
papagaio! Um genuíno papagaio!
O Macaco,
ou seja, o papagaio, é que não pareceu nada satisfeito
com a experiência.
- Ora esta!
- pensou ele - AGirafa saíu-me bem mais esperta do que
eu julgava.
Depois,
olhou melancolicamente para a banana, já descascada, em
cima da mesa, fitou a Girafa, e esganiçou-se:
- Um
genuíno papagaio! Um genuíno papagaio! Um genuíno
papagaio!
- Sem
dúvida! - confirmou a Girafa, satisfeita. - Acho que nos
vamos dar muito bem.
|