E chega ao fim da saga de Clóvis, um dos grandes vilões de novela dos últimos anos. As agressões que Sônia sofria nas mãos do personagem deixavam os espectadores atônitos, mas Dalton Vigh diz que não foi xingado na rua por conta disso. Pelo contrário: a mulherada queria era ir para o sótão com o galã. Na entrevista abaixo, ele fala sobre a experiência de ter feito este vilão e confessa que libertou muitos demônios na pele de Clóvis. Confira!
Como foi estar na pele do vilão Clóvis?
Eu vejo como um presente, porque é difícil você ter a oportunidade de interpretar um personagem assim, ainda mais na televisão. Além disso, acho que o fato de uma novela ser uma obra aberta me favoreceu para poder explorar toda essa loucura dele. Com certeza, o Clóvis vai ficar marcado na minha vida, porque ele também foi uma escola para mim. Uma coisa que eu até costumo dizer para os meus amigos é que, agora, as pessoas não me reconhecem mais nas ruas como Said, personagem que fiz em “O Clone”, mas sim como Clóvis. E isso é bem legal! Sinal de que as pessoas estão acompanhando o meu trabalho e torcendo, mesmo que seja contra.
Quer dizer, então, que esse trabalho representou um desafio para você?
Foi um desafio em todos os sentidos, até pelo ritmo das gravações e a quantidade de cenas que tínhamos pra gravar. Foi um trabalho que exigiu muita concentração, muita dedicação e muita entrega.
O que você vai carregar contigo depois de oito meses de novela?
Eu levo comigo novas amizades, que tenho certeza que vão durar por um bom tempo. E essa experiência de poder ter brincado com a loucura desse personagem, de explorar coisas que eu não tinha tido oportunidade até então. Por outro lado, também foi uma terapia para mim, porque a gente acaba soltando muitos demônios num personagem como este; coisa que na vida real a gente não faz.
Você esperava que ele fosse se tornar tão mau assim?
Não. Eu sabia que ele ser um vilão e tal, mas não sabia que ele ia ser tão ruim assim, aprontar tantas maldades. Eu fiquei sabendo apenas no decorrer das gravações que o Clóvis ia ter uma virada. Mas eu achava que até ele se casar com a Sônia, o meu personagem tinha que ser bonzinho para convencer ela e o Piragibe, não podia mostrar sua vilania. E acho que essa mudança repentina até contribuiu para surpreender o público.
O que você ouve mais nas ruas?
Desde a virada do personagem, eu costumo ouvir desde “Você é muito ruim, mas parabéns pelo seu trabalho” até “Me leva para o sótão com você”. Ou então, na época em que o Clóvis estava fugindo da polícia, eu ouvia de algumas mulheres: “Vem cá que eu te escondo lá em casa”.
Nunca ninguém confundiu você com seu personagem?
Não. Até saiu uma notinha uma vez na internet, num desses sites de fofoca, falando que eu tinha apanhado de uma senhora na rua. Tudo mentira. Não teve nada disso. A aproximação das pessoas sempre foi com bom humor e carinho.
Qual era o truque para que as cenas em que o Clóvis agredia Sônia parecessem tão reais?
A gente fazia um ensaio mecânico com toda movimentação da cena antes de gravação para não ter nenhum tipo de acidente. E graças a Deus não aconteceu nada. Era quase uma coreografia. Além disso, na hora da gravação a gente deixava a emoção fluir para a cena não ficar falsa.
Que cena foi a mais difícil?
Foram as cenas em que o Clóvis espancava Sônia, porque era uma sensação muito ruim, feia e covarde. Acho abominável. Eu sempre achei que só existia este tipo de violência doméstica da parte dos homens, mas fiquei sabendo que tem homens que apanham das mulheres. Acho que não é por aí. Existem formas de educar as pessoas e conviver com elas sem nunca precisar apelar para violência física nem verbal.
E a mais prazerosa?
Eu gosto muito de fazer cena de comida, porque acho sempre muito interessante. Às vezes você grava antes do almoço e está morrendo de fome, ou já está quase na hora do jantar, então você aproveita para matar sua fome. Na casa do Clóvis, por exemplo, sempre teve uma mesa farta com muita comida.
Momentos legais?
Foram muitos os momentos legais. É difícil até de falar, porque minhas memórias são todas de boas lembranças. Não teve um momento sequer desagradável, mesmo fazendo um personagem como este. A gente teve um entrosamento muito legal, elenco e equipe. Nós nos divertíamos muito nos intervalos das gravações, enquanto esperávamos para gravar, ou mesmo entre um ensaio e outro, quando às vezes alguém fazia uma brincadeira. Então, foi bem bacana!
Pretende fazer outro vilão daqui pra frente ou agora vai encarar um mocinho?
Vilão é sempre muito mais legal de se fazer do que galã, porque você tem a oportunidade de brincar mais. Então, às vezes o bonzinho fica meio chato. Mas agora eu prefiro uma comédia, um personagem engraçado, leve, para dar um descanso; senão as pessoas vão ficar achando que eu sou abominável.
Você gostou do final do Clóvis?
Eu, particularmente, achei bem bacana, porque ficou surpreendente. Mas, pra falar a verdade, eu já venho há alguns meses falando que o Clóvis merecia morrer tragicamente, queimado na sua mansão, e ir direto do fogo para o inferno. (risos)