Perguntamos ao elenco de Três Irmãs o que cada um acredita  que a misteriosa personagem esconde. Para Marcos Caruso, Waldete está na cidade por causa de Augusto, personagem de José Wilker. “Eu acho que ela sabe que ele não morreu. Por alguma razão ela escondeu o Augusto, e foi para Caramirim para preparar a volta dele. Os dois são personagens muito misteriosos”, explica Caruso. Roberto Bonfim, que interpreta Pacífico, Waldete é uma Áquila. “Ela pode ser irmã do Pacífico e do Alcides, por isso ela não pode se envolver com ele”, diz o ator.

Carolina, por exemplo, é a única mulher entre os quatro filhos dos pais. Por isso, afirma que não pode trazer nada de sua família para a personagem. Mas não vê isso como um problema. “O legal de atuar é a chance de viver experiências que a vida não nos proporciona”, diz. “Estou adorando ter irmãs. A relação com meus irmãos é muito diferente”.

Giovanna também diz não ser possível trazer elementos da vida pessoal para a dramaturgia. “Meu irmão é meu melhor amigo, mas não dá para comparar a relação que temos com a que tenho com as meninas da novela”. Afinal, diz ela, cada família carrega características próprias e por isso seria impossível fazer analogias entre elas. “Cada família é única e tem sua própria história. Não há meios de fazer comparações do que tenho com minha mãe ou com meu filho. Toda família é incomparável”, comenta.

E por falar em mãe, Ana Rosa, que vive Virgínia, a matriarca das Jequitibá, diz ser possível trazer alguns elementos de sua relação com os filhos. A atriz que interpreta a mãe adotiva de Suzana possui, na vida real, seis filhos – quatro adotados. Todos, é claro, cuidados com o mesmo carinho concedido por Virgínia às três filhas. “O afeto que tenho por todos, na verdade, é algo que consigo transmitir para a personagem”, revela. “E o fato de alguns deles gostarem de praia. Ninguém é surfista, mas a caçula, por exemplo, adora um mar”.

Depois da primeira reunião com Dennis e Calmon, Helena começou a delinear cada personagem. “Para criar uma ‘cara’ para os personagens, já que são muitos os que fazem parte do grupo de surfistas, fiz uma seleção de imagens e uma pastinha virtual para cada um e apresentei para aprovação do diretor. Afinal é um trabalho todo de equipe. Tenho que criar algo que complemente o que o autor e o diretor imaginaram para cada personagem”, explica a figurinista. Depois desta primeira fase do trabalho, Helena e sua equipe – formada por Alessandra Barrios, Julia Brant, Tatiana Menezes, Tainah Carvalho e Edmar Galvão – partiram para a execução do projeto.

Foi criado o “kit surfe”, que inclui uniforme completo para os surfistas da trama – das peças de neoprene às camisas de lycra. “Tentamos criar uma identidade para que o público identificasse o look de cada um dentro d’água. Cada ator terá uma cor determinada, sempre de acordo com as características do personagem”, explica Helena. Suzana, personagem de Carolina Dieckmann, por exemplo, vestirá tons azuis. Eros, personagem de  Paulo Vilhena, vermelho e preto. Juliana Schalch, que interpreta a personagem homônima, rosa com cinza; Bento, vivido por Marcos Palmeira, cinza chumbo e cinza claro; Gregg, personagem de Rodrigo Hilbert, marrom e verde. Todas as roupas foram encomendadas e passaram por um processo de envelhecimento. “Afinal, não podíamos deixar tudo com aquela carinha de novo, como se tivessem acabado de sair da loja”, brinca a figurinista.

Assim como as roupas, as pranchas dos personagens também foram encomendadas. E os surfistas do elenco ajudaram. Alguns atores indicaram seus próprios shapers para fazer suas pranchas. “Para criar uma identidade para cada surfista, personalizamos as pranchas de acordo com o perfil dos personagens e as cores do figurino. A prancha do Eros, por exemplo, tem o desenho de uma sereia. Já a do Paulinho, por ele ser um menino mais dark, é preta”, explica a produtora de arte Andrea Penafiel.

Além de usar Paraty como referência, Fábio Rangel se baseou no perfil dos personagens para começar a idealizar a casa de cada um deles. “Violeta, personagem de Vera Holtz, é uma pessoa perversa, mas é dona de quase toda a região. Ela é rica e quer transformar Caramirim em um complexo turístico. Achamos que esta deveria ser a maior casa da cidade. Seguimos a linha colonial de Paraty, mas com alguns elementos mais modernos. Afinal, a cidade não parou no tempo”, explica o cenógrafo. O contraponto é a casa de Virgínia, que fica em cima da farmácia de sua propriedade. Por ser uma mulher mais caseira, que gosta realmente da cidade onde mora, sua casa “é mais doce, mais relaxada”, como descreve Fábio, que não esconde ser este um de seus cenários preferidos.

Outro personagem importante na vida de Caramirim é Hércules Galvão, vivido por Bruno Garcia, que domina o comércio local com seu mercado e peixaria. “Ele é meio cafona, mas tem dinheiro. Por isso, na casa dele encontramos objetos bons, de qualidade, mas de gosto meio duvidoso. Além disto, ele exagera um pouco na cor. Na casa de Galvão, por exemplo, é possível encontrar uma cadeira graúda demais, meio desproporcional com relação ao resto da decoração”, revela Fábio. O cenógrafo lembra, no entanto, que o ambiente também tem um ar rústico, já que o personagem mora em cima do mercado.

Diversos cenários terão interior na própria cidade cenográfica, como o Mercado e Peixaria Tubarão Branco, a Cantina Capuleto, a loja Coral e a lanchonete Suco de Luz. Fazem parte das construções ainda a escola e uma quadra de futebol.

Para idealizar a vila da Praia Azul, onde está localizada a pousada de Janaína (Solange Couto) e onde moram Sandro (Marcello Novaes), Pacífico (Roberto Bonfim) e Bento (Marcos Palmeira), Keller Veiga buscou inspiração em diversas construções praieiras típicas de pescadores de vários locais do litoral brasileiro, principalmente da Bahia e do Rio de Janeiro. A cidade levou um mês e meio para ficar pronta. A construção é simples, mas, como explica o cenógrafo, demorou um pouco mais por causa dos acabamentos: “A coisa mais desestruturada, mais desorganizada, é mais difícil de fazer. Às vezes, é mais fácil construir uma igreja barroca, com todos os rococós, do que fazer uma tábua errada na parede de uma casa”. Outro detalhe da construção da cidade, que precisou de uma atenção especial, foi o piso recoberto de areia. Como tende a acumular água, foi necessário fazer um sistema de drenagem eficaz.

Vale ressaltar o trabalho de paisagismo que está sendo feito para adaptar a vegetação da Central Globo de Produção ao ambiente de praia. “O paisagismo é um dos mais importantes recursos de realismo das cidades cenográficas. As plantas precisam estar vivas e exuberantes desde o primeiro dia de gravação”, explica Keller.

Os dublês são filmados pegando ondas no mar com pontos coloridos colados em seus rostos, que servem para auxiliar a equipe de efeitos visuais na hora de substituir a imagem dos rostos deles pelo rosto virtual dos atores. Para isto, Paulo Vilhena, Rodrigo Hilbert, Marcello Novaes, Marcos Palmeira, Kayky Brito, Leonardo Carvalho e Carolina Dieckmann foram a Los Angeles para serem fotografados por um equipamento especial. A partir das imagens das expressões faciais de cada ator, o produtor Rafael Ambrósio, da equipe de efeitos visuais da TV Globo, criou uma malha virtual de alta resolução que substitui o rosto dos dublês. São oito etapas entre a captação e a composição final da imagem.

Os animadores Marcelo Papf e Rodrigo Branco e o produtor de efeitos visuais Rafael Ambrósio foram treinados por um diretor de animação que veio do exterior e ficou uma semana dando aulas para o grupo. Além disso, os profissionais de composição, Marcelo Nicácio, e de Iluminação 3D, Igor  Lementy, precisaram pesquisar e implementar novas tecnologias em suas respectivas áreas para conseguir o realismo necessário.  Francisco Lima, da área de Pesquisa e Desenvolvimento, destaca que a criação desse tipo de efeito foi um grande avanço para a TV Globo, que depois poderá utilizar esse novo recurso em composição de cenas de acidentes, cavalgadas, etc.

Para as gravações destas cenas, são utilizadas duas câmeras simultaneamente: uma aquática, que capta as imagens em alta definição; e outra convencional, que fica posicionada na areia. Quem faz as imagens dentro d’água é o cinegrafista e surfista Gustavo Marcolini, contratado especialmente para a função. Durante o dia, a câmera de terra fica gravando toda a movimentação dos surfistas na água. Como uma onda dura cerca de cinco a dez segundos, a equipe correria o risco de perder uma boa imagem se fosse esperar o momento certo para começar a rodar. Com isso, ao término de um dia de gravação, a quantidade de material é enorme. Para facilitar a edição das imagens, o diretor, através de um laptop acoplado ao VT, já seleciona os melhores takes no próprio set.