Boletim Mensal * Ano VI * Março de 2008 * Número 68

           

 

  

COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

       

                                             

 

 

            Como diria o maestro Tom Jobim, as águas de Março estão fechando o verão, mas ainda é tempo de degustar os espumantes, os vinhos verdes, os roses e os tintos leves. Aguardem um pouco mais, caros compadres, que nos próximos meses faremos uma transição gradual para os vinhos mais encorpados, de acordo com as estações do ano que temos no Brasil: duas – verão e inverno.

            Mas vamos ao assunto em voga! Sem perder tempo, iniciarei pelos vinhos verdes, dos quais mal tive tempo de falar na última coluna, tal a quantidade de vinhos espumantes brasileiros, franceses, chilenos, portugueses, italianos, africanos e argentinos que tive de relembrar.

            Nosso Portugal tem encaminhado excelentes vinhos verdes para cá, mas apesar do calor e do tipo de alimentação que temos - propícia a esse tipo de vinho - infelizmente não o tomamos com a freqüência que deveríamos sorvê-lo, preferindo os tintos jovens.

            Sobre o vinho verde, a história é muito rica. Ele surgiu entre na região do Minho, e com a mercantilizarão da agricultura, há séculos atrás, tornou-se forte moeda de troca na comercialização dos produtos, inclusive sendo os primeiros vinhos portugueses conhecidos no resto da Europa, principalmente Alemanha e Inglaterra.

            A demarcação veio apenas no início do século XX, nas regiões de Monção, Lima, Basto, Braga, Amarante e Penafiel e somente no pós-guerra é que as legislações vieram a ser aperfeiçoadas, carreando, com isso, a exclusividade no uso do nome – que já existia alguns anos antes – e pela instituição da chamada denominação de origem – DO, sigla que vemos em diversos vinhos que controlam regiões através de limites geográficos e de regras rígidas de quantidade e qualidade dos vinhos e vinhedos.

            O vinho verde tem características únicas, por sua delicadeza e aroma, que o tornam uma bebida deliciosa e refrescante, harmonizando com uma gama de pratos, em todos os lugares do mundo; mas principalmente pratos portugueses, ou sob a inspiração destes, como é o caso da culinária brasileira.

            Aqui no Brasil iniciamos a degustação dos vinhos verdes há anos com o Acácio e o Calamares (atire a primeira pedra quem nunca tomou um destes, com aquela garrafa bojuda!), mas outras marcas chegaram e rapidamente expandiram o mercado.

            No site da Comissão de Viticultura da Região dos vinhos verdes (www.vinhoverde.pt) achei receitas muito interessantes para harmonização, mas posso destacar, de logo, como entrada: carpaccio de presunto com figos frescos e tosta de sardinha suada em espumante; com prato de peixe e/ou marisco: bacalhau a lagareiro; cavala de meia cura, levemente fumada, abafada com vinho verde tinto e folhado de lagosta com molho de açafrão; harmonizando com pratos de carne: tripas a moda do porto, rojões a moda do Minho, frango na púcara e cozido à portuguesa. Na sobremesa: crocante de framboesa com mousse fria de nata e cereja.

            Sobre esses pratos, tive a oportunidade de provar alguns e posso atestar acerca da perfeição da harmonização. Vários deles eu já comentei em artigos anteriores, mas não custa relembrar.

            O Carpaccio de presunto com figos comi no Porto, em um bar perto do Mercado, o qual não lembro o nome. O bacalhau também foi no Porto ou em Gaia, também nas proximidades da ponte construída por Gustave Eiffel, só lembro disso, e do vinho! As tripas a moda do Porto foram degustadas no Restaurante D’ tonho, no Cais da Ribeira, e também num restaurantezinho na rua principal de Braga, lotado na hora do almoço, com uma taça de vinho verde.

            Já os rojões a moda do Minho tiveram uma história toda especial, pois foram harmonizados com um vinho tinto extraordinário, no restaurante Bagoeira, em Barcelos, de onde trouxemos um tradicional Galo, a nós presenteado pelo simpático garçom, além de termos encontrado com o compadre José Maria e sua simpática esposa, tomando um Conde de Barcelos, tinto verde excelente.

            Outra história interessante foi sobre o frango na púcara, que comi na cada dos parentes do meu sogro, um dos momentos mais felizes naquele país, eles nem nos esperavam, era um almoço de Domingo simples (no dizer deles!), com salada, pão caseiro e o frango no forno a lenha, tudo regado a um vinho feito na quinta de Dona Lourdes, tão bem cuidada pelo Carlos Pacheco. Ah! que saudades... Já o cozido a portuguesa foi na casa do nosso editor, Delmar Rosado, onde a sempre prestativa Cristina fez igualzinho a terra d´além mar, estava deliciosa, igual à companhia...

            Até a próxima, continuarei nos vinhos verdes!