domingues pinto 

falar-vos da verdade só o silêncio.

2 

Queria fazer desta poesia um bolo doce 
para o mata-bicho de toda gente 
pela manhã 

Mas como que ignorando os pastéis que faço 
(e queria tornar hábito do povo 
como o bacalhau pelo natal) 
eles vão comendo os de nata 
e bebendo galões.

  

3 .

 

3

Nero enlouqueceu 
Arderam os bordados no linho nas madeiras preciosas 
ficaram marcados os dedos nas portas 
- que não conseguiram abrir 
rebentaram ânforas, 
derreteu ouro 
Nero suicidou-se enquanto Roma ardeu 
com a loucura carbonizaram restauros impossíveis.

    

4 .

  

4 

Os mosquitos suicidam-se 
caem no tampo da mesa sobre as folhas brancas 
há ainda alguns no tecto 
tácticos de ataque 
que em queda livre se atiram 
sobrevoando a mesa. 
Veio-me agora morrer um na mão, 
que caiu do céu às cambalhotas.

  

5 .

  

 5 

Esta distância que 
me faz dizer coisas 
e traz miragens 
delírios 
paisagens 
ondulando 
o teu 
ser.

   

6 .

  

6 

As pessoas engolem-se 
para estômagos do nada 
E com gritos de bruxas se entretêem nas 
máquinas aos tiros; 
Queimam-se com risos 
tentam-se explicar com 
expressões hereditárias, olham 
curiosas, para tentar descobrir 
e ficam 
naquele estômago do nada 
abrem tampinhas cansadas 
de nada encontrar; 
e depois e depois e depois 
não digo mais nada. ~

  

7 .

  

 7 

O ministro chegou com a Lei. 
Ordem sagrada. 
Desgraçada submissão. 
E entram-me pela porta 
os Soldados das Finanças. 
Beijinhos. Beijinhos. 
Sou uma Puta submissa
domingues pinto  ~  fernando pereira  ~  joão damasceno   ~  josé d'alemão  ~  manuel portela  ~  m. pinto febre