meu avião a arder nesta muralha de olhos de coral
meu precipício transtornado de papoilas loucas
minha onda pregada no céu pela mão da própria sombra
meu cobertor de espelhos ruivos
minha chuva de espuma preta
meu sepulcro rebentado
minha uva de turquesa
meu fruto colisão fantasmagórica
minha papila de míscaro
meu reflexo no teu reflexo gelado
perdido numa exposição de roupa branca
ainda rodeada por múmias
amo-te ( hoje )
os olhos abertos
como aguarelas
em chuva cinzenta,
copos de cristal
luxúria
vertigem
sonho movediço
no medo de mim.
carros loucos
barulho de chapas
no fundo de alguém como eu.
O mar que prossegue
a sua dança
de vidro partido
e os olhos abertos
continuam abertos
porque a presença
é sentida de costas
com tremores
nos dedos nervosos.
Apetece o fumo azul
do branco do cigarro,
apetece sonhar com barcos
e com o céu tribal
com corpos suados,
nús
ao longe de alguma coisa.
Naufrágio de sempre
memória de um passado distante
mas que ferve
que pulsa
na velocidade arrastada do tempo;
quero continuar
mas
alguma coisa
estalou as pernas
alguma coisa
como um olho
talvez aberto
o olho