m. pinto febre

3 poemas, extraídos de nazul

  

 

  

poema allo de péret revisitado 

meu avião a arder nesta muralha de olhos de coral  
meu precipício transtornado de papoilas loucas  
minha onda pregada no céu pela mão da própria sombra  
meu cobertor de espelhos ruivos  
minha chuva de espuma preta  
meu sepulcro rebentado  
minha uva de turquesa  
meu fruto colisão fantasmagórica  
minha papila de míscaro  
meu reflexo no teu reflexo gelado  
perdido numa exposição de roupa branca  
ainda rodeada por múmias  
amo-te  ( hoje ) 

  

  

os olhos abertos  
como aguarelas  
em chuva cinzenta,  
copos de cristal  
luxúria  
vertigem  
sonho movediço  
no medo de mim.  
carros loucos  
barulho de chapas  
no fundo de alguém como eu.  
O mar que prossegue  
a sua dança  
de vidro partido  
e os olhos abertos  
continuam abertos  
porque a presença  
é sentida de costas  
com tremores  
nos dedos nervosos.  
Apetece o fumo azul  
do branco do cigarro,  
apetece sonhar com barcos  
e com o céu tribal  
com corpos suados,  
nús  
ao longe de alguma coisa.  
Naufrágio de sempre  
memória de um passado distante  
mas que ferve  
que pulsa  
na velocidade arrastada do tempo;  
quero continuar  
mas  
alguma coisa  
estalou as pernas  
alguma coisa  
como um olho  
talvez aberto  
o olho 

escrevo-te 

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