Inaugurados em
1902, os bondes de BH corriam na famosa bitola métrica (isto é, 1,0m entre os
trilhos, que é, aliás, a que predomina nas ferrovias comuns do Brasil) e já começaram
elétricos; assim como em Petrópolis, não houve
tração animal no "tramway" de Belo Horizonte. Há mais duas particularidades a
observar: os primeiros quatro carros postos em circulação foram construídos no Brasil,
e o veículo inaugural foi conduzido por uma mulher - coisa um tanto inusitada para a
época, talvez de cunho feminista -, a filha do industrial Sampaio Correia, a quem se deve
a fabricação dos quatro bondes iniciais. Mais tarde, em 1908, foi introduzido um gerador
mais possante na central de força, e em setembro do mesmo ano, trafegou o primeiro carro
de luxo, construído pela própria operadora, a "Companhia Ferro-Carril de Belo
Horizonte". A partir de 1909 mais carros foram fabricados e expandiu-se a malha do
"tramway" de BH, com o assentamento de novas linhas. Em 1911, a prefeitura
colocou os carris em concorrência, na qual candidataram-se a Light, a Gaffré &
Guinle, a Cia de Mineração Morro Velho e a Vivaldi & Cia. Durante o curso da
concorrência ocorreu uma estagnação na manutenção e nos progressos do sistema de
bondes, pelo que o mesmo começou a decair. Mas em 1912 tomou posse a empresa
"Sampaio Correia & Cia." (a mesma que fabricara os quatro veículos
iniciais), que tratou de reestruturar os serviços de viação, fazendo também
incrementos nas linhas, dentre os quais a implantação de vias novas e a duplicação de
vias singelas (via ou linha singela é uma via única para tráfego em dois
sentidos). A partir de 1915 ocorreram grandes avanços, em aumento do número de carros e
acréscimos de linhas, e até 1923, quando foi prolongada a linha do bairro Floresta, o
bonde cumpriu seu trabalho, livre de concorrências rodoviárias. Em outubro do mesmo ano,
porém, começaram a surgir os "auto-omnibus", estabelecendo-se a
"disputa", fator que, na ocasião, estimulou novos progressos e modernizações
para o sistema de bondes da cidade. Apesar dos novos incrementos que de fato
aconteceram , o declínio também aconteceu, e as dificuldades por que veio a passar
o "tramway" de BH, como, p/ex., um período de seca - que, baixando o rendimento
das usinas de força, diminuiu o fornecimento de eletricidade , a falta de
incentivos e medidas de solução e, sobretudo, as "campanhas contra" promovidas
pelo empresariado do ônibus, tudo isso formou um conjunto de atuações contrárias à
preservação dos carris, que infelizmente foram extintos em 1965,
"apesar de os bondes (como em todos os locais onde eles trafegaram) serem muito
populares entre a maioria do povo. Havia até um dito popular que dizia: Ai meu
Deus, que vida é esta: subir Bahia e descer Floresta!... Mas com a política de
acabar os serviços tranviários com banda de música e festejos o povo ia na onda e
acompanhava essas comemorações sem queixas. (Psicologia aliada à política.)" obs.:
O trecho entre aspas acima foi transcrito literalmente de HTUB Stiel página
47. De fato, tanto se "fez a cabeça" do povo contra os bondes, que hoje a
juventude às vezes nem sabe o que é isso, e alguns antigos, ainda que lembrem em
estilo saudosista, repetem o chavão de que o bonde "atrapalhava o
trânsito", embora seja evidente que - sem o excesso de ônibus e sem tanta gente
trafegando em seu automóvel particular pelas cidades, porque o transporte coletivo é
deficiente o bonde, longe de atrapalhar, até serviria de ponto de referência para
o tráfego. |
À
direita: Vista recente dos bondes de Belo Horizonte. Observemos, nesta bela paisagem, o
alargamento da via, em formação circular, ao redor do obelisco, vindo e indo em
convergência com a reta que segue no sentido adentrado da foto. Vemos, rumando à nossa
direita, no sentido de vir, um bonde recente, de grande porte, dois trucks (oito
rodas) robusto e fechado, e, em sentido de ir, rumando à nossa esquerda, um pequeno carro
antigo, aberto, de truck único (quatro rodas). A imagem nos dá um vislumbre da
manutenção em serviço dos veículos antigos, em convivência com os mais modernos, um
exemplo de bom aproveitamento do que já existia, juntamente com o que se cria no
momento em questão. Utilizam-se os tipos dos bondes de acordo com as necessidades da
linha que servem. |
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