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As Características do Bonde

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Bondes no Brasil - Salvador - BA
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Carro-motor com reboque - Salvador - 1920 - HTUB - WCS - pág. 391 (veja ampliado). Belo exemplo de composição de grande porte, que faz lembrar os "bataclans" do Rio de Janeiro; o carro-motor e o reboque são, neste caso, carros do tipo aberto (ver tipos). Note-se a "testeira" (dianteira) plana, a grade lateral de segurança e a alavanca do tipo "arco".

Bonde-Ambulância - Salvador - 1913 - HTUB - WCS - pág. 391. Chamamos atenção para um detalhe interessante deste exemplo: o carro ambulância tem duas alavancas coletoras, uma do tipo "lança" (que vemos arriada), e outra do tipo "arco" (erguida, só visível a base). O motivo desta duplicidade está explicado abaixo.

Rua Chile - Salvador - 1950 - HTUB - WCS - pág. 392. Típica paisagem da capital bahiana, com seus prédios de aspecto histórico. Vêem-se, em cada sentido do tráfego, um bonde do tipo fechado e de porte aparentemente médio, ambos sem reboque.

Interior de bonde em Salvador - 12-6-1949 - HRUB - WCS - pág. 400. Este foco nos dá uma noção nítida da boa qualidade do espaço interno e das acomodações dos bondes soteropolitanos. Ao centro, vemos o motorneiro em serviço (ver controles e profissionais).

Explanação baseada em dados colhidos da obra de Waldemar Corrêa Stiel

Data de 1845 a primeira iniciativa de transporte público em Salvador, empreendida pelo austríaco Rafael Ariani. Tratava-se de um serviço de ônibus, ou "gôndolas", como eram chamados na época, a tração animal. O mesmo Ariani inaugurou, mais tarde (1866), um serviço de diligências sobre trilhos, na extensão de 3 Km, na região de Munganga (Coqueiros de Águas dos Meninos). Eram, já, de certo modo, os bondes de Salvador, ou sua precursão. Associando-se depois a Nicolau Carneiro da Rocha e Paulo Pereira Monteiro, e, mais adiante, a João Inácio de Azevedo, constituiu-se a firma "Monteiro, Carneiro & Azevedo", que veio, mais tarde, a incorporar-se à companhia de bondes denominada "Veículos Econômicos". Ao lado da iniciativa de Ariani, ocorreu a do negociante Antônio Francisco de Lacerda, que, além do sistema de bondes que empreendeu, foi responsável pela criação do serviço de elevadores entre Cidade Alta e Cidade Baixa, sistema este que até hoje funciona e ainda leva o seu nome, o famoso "Elevador Lacerda"; a princípio movidos hidraulicamente, a propulsão dos elevadores foi eletrificada entre Julho de 1906 e Janeiro de 1907. O serviço de bondes instaurado por Lacerda - "Companhia de Transportes Urbanos" - foi inaugurado em 1870, o primeiro trecho entre os Largos da Graça e da Piedade; a seguir estabeleceu-se o tráfego na Ladeira de São Bento (descida) e Rua Direita (subida), indo à Praça do Palácio. É interessante observar como era impelido o trajeto, por meio de etapas, sendo os animais deixados na Rua Chile a descida feita por força da gravidade, até o Largo do Teatro, quando era atrelada outra parelha de animais, dando seqüência ao percurso. Em 1904, essa empresa foi comprada pela "Companhia de Trilhos Centrais". Esta surgira por contrato efetuado em 1869, visando a instalação de linhas de bondes entre Barroquinhas e Engenho da Conceição, atravessando Retiro, Soledade e Rio Vermelho. Os trabalhos de construção iniciaram-se em Novembro de 1870 e a inauguração do serviço em Junho de 1871. Seus fundadores foram dois filhos do já falecido Rafael Ariani - Justo e Luciano Ariani -, além de Francisco Justiniano de Castro Rabelo, Manoel de Souza Machado e Egas Carneiro de Campos. Em 1876, esse sistema já contava 4,4 Km de extensão, tendo-se expandido até a Quinta de São Lázaro (1871) e, depois, ao Rio Vermelho (1876). Conforme dito acima, essa empresa encampou, em 1904, a "Cia. De Transportes Urbanos". É interessante notar que esta última tivera grandes progressos, já contando 30 Km de extensão, e que introduzira o sistema de planos inclinados, muito apropriado para a topografia soteropolitana, conhecida por suas muitas ladeiras. Esses planos inclinados (eram dois) marcaram o emprego do sistema de tração a cabo no Brasil(*) (ver nossa página sobre tração a cabo), caracterizando, segundo as palavras de Stiel, "um meio de transporte coletivo bem original. Constava de dois bondes sobre trilhos que eram movidos por cabos que se enrolavam em um tambor. Foram projetados e construídos sob a direção de Júlio Brandão." (HTUB - WCS - pág. 383). Depois da unificação da "Transportes Urbanos" pela "Trilhos Centrais", deu-se, em 1905, a fusão dessa resultante com a firma "Guinle & Cia.", que movimentavam os portos de Santos e do Rio de Janeiro e encarregavam-se da construção da maior parte das instalações de energia elétrica no Brasil. Sob a nova direção, a "Trilhos Centrais" cresceu rapidamente, absorvendo a "Companhia Linha Circular" e adotando, em 1906, a tração elétrica, que foi instalada no trecho de Brotas e Itapoã, pertencente à "Companhia Tram-Road de Itapoã", da qual a "Trilhos Centrais" adquirira a concessão. Seguiram-se as instalações do sistema elétrico entre Barroquinha e Ponte Nova, a seguir até Mata Escura (1908), e, em 1916, entre o Beco do Felizardo e Acupe. Em 1926 a "Tram-Road de Itapoã" foi encampada pela "Cia. Linha Circular". Voltando um pouco no tempo, lembraremos, fora do contexto da "Trilhos Centrais", a "Companhia Tram-Road de Nazaré", surgida em 1876 - organizada pelo médico Alexandre Bittencourt e pelo engenheiro João Luiz Pires Lopes -, e a já citada "Veículos Econômicos" funcionando desde 1869 entre Conceição da Praia a Itapagipe, onde combinavam-se as trações animal e a vapor ("Entre a Cidade e Bonfim a tração era feita por animais e dali em diante por uma pequena locomotiva a vapor." - HTUB - WCS - pág. 384, segundo Relatório do Min. Da Agricultura p/ 1873 - pág. 129), e, mais tarde, empreendendo, por iniciativa própria, a eletrificação de suas linhas. Para tal melhoramento, a empresa adotou a bitola de 1.435 mm e importou veículos alemães da firma Siemens/Schukert Siemens/Halske. O serviço de bondes elétricos da "Veículos Econômicos" foi inaugurado em 1897, dando a Salvador a condição histórica de segunda cidade brasileira a ter bondes de tração elétrica, bem como fôra, anteriormente, a segunda tê-los de tração animal, precedida apenas pelo Rio de Janeiro, em ambos os casos. A concessão foi, depois, transferida à Siemens alemã, e, em seguida (1906) à recém fundada "Bahia Tramway, Light and Power Company", que deu prosseguimento às eletrificações, começando pelas linhas de Itapagipe, Boa Viagem, Calçada e Massaranduba. Apesar de tais progressos iniciais, a "Bahia Tramways" não tardou a declinar, sendo, a ponto de serem seus serviços, em 1913, encampados pela Intendência Municipal, que não logrou, porém, reerguer o sistema, que continuou a decair. Por fim, em 1929, a Intendência Municipal abriu concorrência para a venda da "Bahia Tramways". A única empresa licitante foi a "Cia. Linha Circular da Bahia", que assumiu o sistema. Essa empresa, fundada em 1883, sob concessão a João Ramos de Queiroz, fôra, como sabemos, adquirida pela "Trilhos Centrais", em 1906, ano em que adotou a tração elétrica e a bitola de 1.435 mm. Sua linha do Rio Vermelho foi a primeira elétrica da Cidade Alta, e em seguida foi eletrificada a linha da Barra. Nesse mesmo ano (1906) a empresa realizou a montagem de um carro em suas próprias oficinas (os veículos anteriores eram importados). Vale transcrever aqui as elucidações de Stiel, a respeito das características técnicas desse veículo: "...carro elétrico contendo no seu interior um motor de indução de 2.300 V, 200 cavalos, ligado diretamente a um dínamo de corrente contínua de 150 kW. Havia mais um quadro de distribuição para esses aparelhos e outros materiais acessórios, formando assim com aquele carro uma subestação rodante portátil igual às que a General Electric fornecia para auxílio da tração elétrica." (HTUB - WCS - pág. 390). A Companhia teve progressos, inaugurando mais linhas, expandindo o sistema na Cidade alta, construindo, em 1910, uma estação central, pondo em tráfego, em 1911, o bonde-salão (carro de luxo para eventos especiais, com gabinete reservado, sala e varanda), os carros fúnebres e, em 1913, o bonde-assistência, cujas características especiais merecem, também, a transcrição literal das palavras de W. C. Stiel: "...possuía os dois tipos de alavanca para poder servir em todas as linhas da cidade, já que umas possuíam alavancas de arco e outras de carretilhas, porém a bitola era a mesma." (HTUB - WCS - pág. 390). Lembremos que "carretilha" é o mesmo que "trolley", o que caracteriza a alavanca tipo "lança" (ver figura da direita, no topo desta página, e nossas respectivas páginas sobre coletores de energia e utilidades específicas dos veículos). A "Cia. Linha Circular" vinha assim progredindo "de vento em popa", mas, como todas as empresas que dependiam de importações, sofreu os efeitos da Primeira Grande Guerra. Os serviços, a manutenção, enfim, as condições gerais da Companhia decaíram sensivelmente entre 1914 e 1918. Terminado o conflito, a retomada de força foi lenta, mas ganhou bom impulso em 1924, quando iniciou-se a construção de novas linhas, a começar pela da Amaralina, além da adoção do sistema de cobrança por meio de talões de passes. Inauguraram-se em 1926 as linhas do ramal de Canela, e depois outra, "em prolongamento do ramal do Campo Santo até o Segundo arco, ligando aí com a linha do Rio Vermelho" (HTUB - WCS - pág. 395). A "Linha Circular" adquiriu, em fins da década de 1926, a "Trilhos Centrais", e, no ano seguinte (1927) a própria "Linha Circular" foi, por sua vez, pela "Companhia Brasileira de Força Elétrica", uma sucursal da General Electric, que geriu mais expansões e melhoramentos, dentre os quais as linhas "via Cabula". A "Linha Circular", já sob a jurisdição da "Força Elétrica", encampou - como já sabemos – a "Veículos Econômicos" (que, por sua vez, fôra antes encampada pela já decadente "Tramway Light and Power"). Surgia, então, a "Companhia de Energia Elétrica", que assumiu o serviço tríplice do fornecimento de energia, do transporte urbano (os bondes) e das comunicações (serviço telefônico). Com o monopólio, a empresa, sem concorrentes, foi-se desinteressando da boa manutenção dos serviços, o que gerou um outro processo de decadência, por um motivo, naturalmente, muito diverso do anterior (a guerra), ou seja, a empresa decaía pela própria negligência. A má qualidade do sistemas de bondes gerou um evento popular muito típico quando ocorrem situações desse gênero nos serviços públicos, sobretudo nos transportes. O "quebra-quebra" deu-se em 1930, incendiando-se 60 bondes da "Linha Circular". A Companhia, porém, teve ganho de causa na justiça, não sendo, portanto, obrigada a repor o material rodante, o que levou o sistema de bondes soteropolitano, antes um dos melhores e mais vanguardistas do Brasil, à condição de um dos mais deteriorados e deficientes do País (dados sobre o "quebra-quebra" colhidos por W. C. Stiel da obra de Jorge Amado "Bahia de Todos os Santos"). Mesmo em contínua e franca decadência, a Companhia agüentou até 1955, quando, enfim, a Prefeitura encampou todo o seu patrimônio, transferindo-o para o recém criado Serviço Municipal de transportes Coletivos (SMTC). Como era de praxe, quando os serviços municipais "assumiam" os bondes, estava-se prenunciando a sua costumeira extinção, e no Brasil esse "fenômeno" escolheu para acontecer o entre-décadas 1950/60. A velha história não foi diferente em Salvador. Os bondes soteropolitanos duraram até 1961.

(*) Obs.: Vale lembrar que o plano inclinado também foi utilizado no Rio de Janeiro, em Santa Teresa, quando ainda não havia tráfego de bondes sobre o Aqueduto dos Arcos. Veremos elucidações a respeito no Suplemento Especial de Santa Teresa.

 
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