Um dos mais
importantes componentes funcionais do sistema de bondes, e de qualquer sistema
ferroviário, é a "chave", isto é, o desvio, ou, em termos mais técnicos, o
"AMV", Aparelho de Mudança de Via. Dispomos aqui de dois exemplos, onde podemos
perceber, em ambos, alguns detalhes análogos do desvio, e, observando-os em separado,
notaremos a diferença nos tipos de trilho adotados, num e noutro caso. Na sua maior
parte, os bondes rodam sobre os célebres "trilhos de fenda", mas há casos em
que se adota o tipo comum (o mesmo empregado nas ferrovias convencionais), acompanhado
internamente por contra-trilhos (que às vezes nada mais são que trilhos colocados
"por dentro" da bitola), substituindo o recurso da fenda. A fenda, o contra
trilho, etc., bem como suas utilidades, funções e/ou necessidades serão vistos a
seguir. |
|
O
esquema à esquerda (cortesia Werner Vana) mostra um tipo de sistema em que acopla-se um contra-trilho especial a
um trilho semelhante ao de tipo comum. A existência da nervura (ver no desenho, ao meio
da alma, entre a mesa inferior e o boleto) difere este trilho do comum. A nervura serve de
apôio ao contra-trilho, que é atarrachado ao trilho por meio de um fixador (observar no
desenho). O contra-trilho do esquema é, conforme explicado acima, de um tipo
característico, em forma de meia canaleta, que faz às vezes da fenda, ou seja, ele forma
a fenda; se observamos uma via que tenha esta espécie de trilhos, teremos a impressão de
ver trilhos de fenda. Há casos, porém, em que se usa um trilho comum, ao lado do trilho
de rolamento, para servir de contra-trilho (ver exemplo abaixo). Nota: As
medidas que lemos no esquema correspondem a um tipo determinado, não sendo, portanto, um
padrão universal. |
|
|
|
Exemplo
esquemático, em corte vertical, do trilho comum, usado comumente nas ferrovias de longo
curso, para o tráfego de trens, às vezes também usado em vias bondes, geralmente, neste
caso, com o auxílio do contra-trilho. Este desenho foi feito com base no esquema de Werner
Vana, acima. |
|
Exemplo
esquemático (com base no mesmo esquema), em corte vertical, do trilho de fenda, o tipo
mais usado nas vias de bondes. Os dois desenhos - este e o que vemos à esquerda - são
esquemáticos e nos dão uma idéia geral, mas há variedade de medidas e particularidades
de formato. |
|
|
|
|
AR
LIVRE |
|
DORMENTE |
|
TRILHOS |
|
SOLO |
|
CALÇAMENTO |
|
|
|
Acima,
um pequeno esquema simplificado, em corte vertical, da configuração do conjunto da via
permanente dos bondes, vendo-se os dois trilhos (de fenda, neste caso) sobre dormente. A
cor cinza representa o calçamento da rua, que pode ser de paralelepípedos, asfalto, ou
outro; o amarelo corresponde ao ar livre, ou seja, o ambiente onde podemos estar e
observar a linha, o que significa que só vemos a superfície dos trilhos, conforme
demonstram as duas fotos abaixo. Vemos, por cima, o boleto e a fenda dos trilhos. O
restante fica subterrâneo, os trilhos cercados pelo calçamento e o dormente pelo solo,
isto é, o material de sub-lastro da pavimentação da rua. |
|
A
"agulha" é uma peça afunilada de trilho, articulada e móvel, que, conforme
posicionada, promove a permanência do veículo numa via ou a passagem do mesmo a outra. O
"jacaré" é o cruzamento da trilho direito da via por onde o veículo
"sai" com o esquerdo da via que continua. Esta via, em Santa Teresa, Rio de
Janeiro RJ, adota o sistema trilho & contra-trilho. Conforme indicado na
figura, vemos os trilhos, por onde correm as rodas, nas extremidades
laterais das vias, e os contra-trilhos os acompanham internamente. |
|
Aqui vemos desvios em vias com trilhos de fenda,
aliás o gênero mais usado em sistemas de bondes. As fendas são uma espécie de
apêndices laterais, em forma de canaleta, que garantem a passagem livre dos frisos das
rodas, pois a superfície dos trilhos de bonde assenta-se em contacto direto com o
pavimento das ruas, e a lateral interna de um trilho comum ficaria sujeita ao acúmulo de
materiais terrosos, detritos, excesso de asfalto, etc. O contra-trilho é um recurso
opcional, no qual a função da fenda é exercida pelo espaço livre entre o trilho e o
contra-trilho. |
Veja, na página a seguir, a
continuação deste assunto, com exemplos detalhados de desvios. |
|