Já adotando
carros de dois andares, o primeiro serviço de bondes a tração animal em Porto Alegre
foi de iniciativa do Sr. Estácio Bitencourt, que estabeleceu contrato em 1864, sendo
iniciado o tráfego em Novembro do mesmo ano; mas com os resultados deficitários do
empreendimento, o serviço não durou muito. Em 1872 criou-se nova empresa de carris, a
"Cia. Carris de Ferro Porto-Alegrense", uma espécie de sociedade anônima, que
promoveu rápido assentamento de trilhos, em bitola métrica (1,0 m entre os trilhos),
começando o funcionamento em 4 de Janeiro de 1873, mas cuja inauguração oficial deu-se
em 25 de Julho desse ano. A extensão da malha perfazia 16,820 km, e o material rodante
compunha-se de 11 carros abertos, 9 fechados e um trole de linha. Dezoito anos depois
(1893) surge outra empresa, a "Cia. de Carris Urbanos de Porto Alegre", e em
1906 a Intendência (prefeitura), abriu concorrência para instalação da tração
elétrica. Fundiram-se as duas empresas de bondes a burro, compondo a nova "Companhia
Luz e Força Porto-Alegrense", que firmou contrato com o município em 14 de Abril de
1906, determinando-se também o fornecimento de luz elétrica; em Outubro iniciaram-se os
estudos e projetos, e de Novembro a Dezembro a distribuição e assentamento de trilhos,
em bitola de 1,435 m, construindo-se uma usina de geração; adquiriram-se 37 carros
ingleses, dentre os quais dois eram "Imperiais" (com dois pavimentos). Deu-se a
inauguração em 10 de Março de 1908. Pelos anos seguintes estendeu-se a malha viária e
mais carros foram adquiridos, sendo que os "Imperiais", devido à sua
incompatibilidade com a topografia da cidade, passaram a serviço esporádico. Em 1920
Porto Alegre contava com sete linhas (trajetos) de bondes. Nessa década, ocorreram
progressos, tornando-se a empresa auto-suficiente para fabricação de carros
(aproveitando e recuperando motores e truques de veículos velhos), e reformas, dentre as
quais a transformação dos "Imperiais" em bondes fechados. Ocorreu em 1925 a
renovação do contrato, e novas modificações foram feitas, dentre estas a soldagem de
trilhos, aliás um grande avanço técnico para a época. Nessa mesma fase, os
"Imperiais" foram retirados de circulação. Em 1926 chegaram cinco carros
belgas, e introduziu-se o sistema de freio a ar comprimido; mais carros belgas chegaram no
ano seguinte, quando a empresa atingia sua plenitude em termos de eficiência,
modernidade, expansão de vias e número de veículos. Em 1928 a empresa norte-americana
"Electric Bond & Share" tornou-se acionista majoritária da "Carris
Porto-Alegrense", que sob sua nova administração adquiriu alguns ônibus para
auxiliar o serviço dos bondes. Em 1929 chegaram mais carros fechados, e empreendeu-se a
reforma completa no carro no. 80, um dois mais antigos, inserindo-se no mesmo inovações,
além do freio a ar, como a colocação de uma caixa, ao lado do motorneiro (que
trabalharia sentado), para o pagamento das passagens (deduz-se que, provavelmente, esse
sistema dispensasse a participação do condutor, isto é, cobrador de passagens), e o
letreiro luminoso na "vista" de indicação do destino do percurso. Em 1930
saíram de circulação os carros reboque. No decorrer dos seguintes anos, a empresa
passou a um consórcio de empresas carboníferas, sendo modificados certos estatutos, e
acrescidas novas linhas. A prefeitura encampou o sistema em 1960, compondo-se uma empresa
municipal de coletivos, incluindo bondes e ônibus. Os bondes porto-alegrenses duraram
mais dez anos, sobrevivendo a um mal gerido serviço de trólebus que não passou de 1969.
Certamente os bondes fizeram falta, como em todo lugar de onde foram retirados. Mas, como
de costume, o que foi feito em Porto Alegre com relação aos bondes nada teve de
original, ou seja, extinguiram-se os serviços em 8 de março de 1970. Em todo caso, Porto
Alegre foi, antecedendo Santos, uma das últimas cidades brasileiras a seguir o
"costume". |