Após algumas
concessões e tentativas que não foram avante, o primeiro tramway da capital
pernambucana da empresa "Trilhos Urbanos de Recife e Apipucos" foi
inaugurado em Janeiro de 1867, consistindo num trem urbano de três carros, tracionado por
locomotiva a vapor (conhecidas como "maxambombas"), em bitola de
1,2 m, perfazendo um trajeto que ligava a Rua Formosa ao Caldeirinho, num tempo aproximado
de 30 min. Esta linha de Apipucos foi, mais tarde, estendida a Encarnação e depois a
Caxangá (1871), completando um percurso de 26 km. Uma outra companhia surgiu, criando-se
a linha, inaugurada em 1870, que ligava a Rua Aurora a Olinda, também um tramway a
vapor, esse com 12 km de extensão e bitola de 1,32 m. os
bondes propriamente ditos foram iniciativa de José Henrique Trindade, que assinou
contrato com o governo provincial em 19 de Março de 1870, "decorrente de
concorrência pública para o estabelecimento de um sistema de carris de ferro que,
nos termos da lei provincial no. 879, de 25 de Junho de 1865 ligue a capital desta
província com os seus subúrbios para os quais não estejam já estabelecidos os trilhos
urbanos e una os demais pontos limítrofes de nossa capital" (HTUB WCS
pág. 287). Constituiu-se, assim, o primeiro serviço de bondes a tração animal
no Recife, cuja primeira malha ligava o Largo do Arsenal da Marinha à Passagem da
Madalena, com ramificações para Afogados, Fernandes Vieira e Santo Amaro. Pouco tempo
depois, Trindade passou seus direitos à recém formada companhia "Pernambuco Street
Railway" que logo passou a chamar-se "Cia. Ferro-Carril de
Pernambuco" e o bonde a burro foi inaugurado em 14 de Janeiro de 1872. Uma
terceira empresa de bondes a tração animal, a "Companhia Ferro-Carril Boa
Viagem", ligando Recife a Boa Viagem, surgiu no princípio do século XX, mas durou
pouco tempo. As aspirações à eletrificação foram controvertidas, caracterizadas por
litígios e protestos, o que provocou um grande atraso neste sentido, com relação às
outras cidades brasileiras, já servidas por linhas eletrificadas. No início da década
de 1910, foi votada uma lei autorizando abertura de concorrência para eletrificação.
Oito empresas se candidataram, e a concessão coube, finalmente, à "Dodsworth e
Cia.", que encampou as duas empresas de bondes puxados a burro. As obras tiveram
lugar no ano de 1913, com o assentamento da via, instalação da rede, etc., e nesse mesmo
ano a empresa passou a concessão à "Pernambuco Tramway & Power Co. Ltd.".
adotou-se a bitola de 1, 435 m. o tráfego experimental dos bondes elétricos começou em
8 de Abril de 1914. Eram bonitos carros de dois truques, com 12 bancos. A inauguração
oficial deu-se no dia 13 de Maio, em dois percursos, um ligando Recife à Praça Maciel
Pinheiro, outro a Cabanga. Em 8 de Julho inaugurou-se a nova linha de Soledade. Novas
linhas elétricas surgiram em 1915, a da Torre (2 de Maio), quando extinguiu-se
definitivamente a tração animal, a da Ponte dUchoa (12 de Outubro), a do Zumbi (20
de Setembro), Caxangá (12 de Outubro) e Várzea (29 de Outubro). E o acréscimo de linhas
prosseguiu em 1916 (Casa Amarela) e 1917 (Dois Irmãos). Segundo registros de Mário
Sette, transcritos por Stiel à pág. 296 (HTUB WCS), o tramway a vapor foi extinto em princípios da década de 1920, ao se
inaugurarem as linhas eletrificadas de Campo Grande e Beberibe. A expansão dessa primeira
fase foi intensa até 1925. Por volta de 1927 o grande concorrente o
"inexorável" auto-omnibus começou a invadir o espaço dos bondes. O tramway,
no entanto, continuou a crescer. Em 1928 a General Electric Co. comprou a Pernambuco
Tramways, e novas linhas foram inauguradas em 7 de Julho do mesmo ano. Segundo um relato
citado por Stiel à pág. 299 (HTUB WCS), após grandes progressos e melhorias de
todo tipo, proporcionadas pelo bonde elétrico, ocorreu uma decadência caracterizada pela
morosidade do serviço, acrescida do desconforto, manutenção precária, atravanco, etc.
Stiel dá, para a causa dessa queda, a explicação exata, aplicável não só ao Recife,
mas à maioria de nossas cidades grandes e médias; uma explicação simples, mas na qual
quase ninguém atina, ou não quer atinar: o surgimento excessivo dos ônibus, o tráfego
demasiado de automóveis. Se, em vez de encher as ruas de ônibus, otimizássemos os
sistemas de bondes, também não seria tão intensa a quantidade de carros de passeio,
pois o transporte coletivo seria eficiente. "Nossos olhos só se voltam para o
automóvel e o ônibus como solução, jogando a culpa de todo o atraso e congestionamento
sobre os bondes, insuflados pelo interesse na extinção desses incômodos concorrentes. O
caso é que a extinção dos bondes não solucionou os problemas do trânsito. Quem sabe
não o agravou?" (HTUB-WCS - pág. 299). Os bondes do Recife foram extintos em 1955. |