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As Características do Bonde

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Bondes no Brasil - São Paulo - SP
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Veja também os suplementos "Ilustração Cronológica" e "O Carro Ypiranga".

Rua Quinze de Novembro e o bonde a burro (foto do Museu da Imagem e do Som) - São Paulo - 1879 - HTUB - WCS - pág. 450. Fotografia histórica do bonde no Império. Vê-se o veículo à distância. Ignoramos o antigo nome da rua.

Bonde aberto de nove bancos (foto de Carlheinz Hahmann na av. Paulista) - São Paulo - 1946 - HTUB - WCS - pág. 452. Exemplo de carro pequeno (ver porte), de quatro rodas (ou truck central único), aberto (ver tipos), estilo antigo, sem parabrisa.

O célebre "Camarão" na av. Paulista (foto de Carlhainz Hahmann) - São Paulo - 1945 - HTUB - WCS - pág. 456. Modelo mais afamado e popular dos bondes de São Paulo.

Av. São João e o bonde Centex (foto de Carlheinz Hahmann) - 1948 - HTUB - WCS - pág. 457. Modelo mais recente a ser incorporado ao sistema de bondes paulistano; carros originários de Nova Iorque.

Rua Xavier de Toledo vendo-se o novo Centex (foto do arquivo de Carlheinz Hahmann) - 1948 - HTUB - WCS - pág. 457. Carro do mesmo modelo do exemplo acima, à direita. Observemos a largura das portas.

Av. Cons. Rodrigues Alves e o Carro no. 2111 da linha Santo Amaro (foto de Carlheinz Hahmann) - São Paulo - 1946 - HTUB - WCS - pág. 458. Carro de grande porte, da última linha a ser desativada em São Paulo.

Explanação baseada em dados colhidos da obra de Waldemar Corrêa Stiel

São Paulo é a cidade dos famosos "camarões", bondes de aparência muito original, devido à pintura em vermelho vivo, típica e quase exclusiva dos bondes paulistanos. Ao lado de outros extensos serviços de bondes no Brasil, como o do Rio de Janeiro, o tramway de São Paulo teve presença marcante no serviço à população local, deixando um traço forte na história e no folclore da cidade. A primeira iniciativa de instaurar um sistema de transporte coletivo em São Paulo data de 1871, quando foi concedido ao eng. Nicolau dos Santos França Leite (ou "a quem melhores vantagens oferecesse") o privilégio de estabelecer "uma linha de diligências tiradas por animais, sobre trilhos de ferro, que partindo do centro da cidade se dirija às estações do caminho de ferro" - HTUB - WCS - pág. 451 - da lei provincial no. 11 de 9 de março de 1871. Fundou-se, então, a "Companhia de Carris de Ferro de São Paulo", sediada, porém, no Rio de Janeiro. As obras correram rápidas e os primeiros bondes de São Paulo começaram a trafegar já em 12 de outubro de 1872, entre a Rua do Carmo e a Estação Ferroviária da Luz. Seguiram-se as criações da "Cia. Paulista de Transportes", ligando ao bairro do Ipiranga, e a "Ferro-Carril do Bom Retiro a Bela Vista", pouco depois chamada "Cia. Ferro-Carril de São Paulo". A expansão do carril urbano em São Paulo estava, portanto, impulsionada e, sem demora foram surgindo novas empresas, que expandiam rapidamente os trilhos urbanos nas ruas da cidade. A "Carris de Ferro São Paulo a Santo Amaro", autorizada em 1880 e posta em serviço a partir de 1885, marcou o início do bonde motorizado em São Paulo, adotando, de começo, a tração a vapor, pelo sistema usual da pequena locomotiva com carro reboque. Eram locomotivas do fabricante alemão Krauss (veja também na página sobre Bondes a Vapor de Werner Vana). Em 1890 surgia a "Empresa de Bondes de Sant’ Ana", (outro caso sui-generis, além do ocorrido em Juiz de Fora, em que o termo "bonde" foi empregado oficialmente), cuja linha ligava a Ponte Grande ao Alto de Sant’ Ana. A "Cia Viação Paulista", formada em 1892, propunha-se a unificar todas as empresas já criadas, com exceção da "Bondes de Sant’ Ana" e da "São Paulo a Santo Amaro", que atuavam fora da região central. O fato de todas as companhias terem suas vias na mesma bitola (1,05 m) facilitou a unificação, que realmente ocorreu, estando, já em 1896, a empresa exercendo seu monopólio em quatro seções regionais: 1 - Bom Retiro (linhas Liberdade a Ponte Grande, Rua Helvétia, Amador Bueno, Palmeiras, Barra Funda, Av. paulista, Rua da Beneficência Portuguesa e Santo Antônio); 2 - Cambuci (Ipiranga, Moóca, Rua do Hospício, Jardim, Mercado, Cambuci, Vila Deodoro a Vila Mariana, via Av. Lins de Vasconcelos); 3 - Santa Cecília (Perdizes, Vila Buarque, Consolação, Santa Cecília, Vitória, Higienópolis, Alameda Glete, Aurora, Bambus, e Largo Guaianazes); e 4 - Imigração, Rua Piratininga, Moóca, Hipódromo, Rua Müller, Marco de Légua e Rua do Oriente). O material rodante compunha-se de 77 carros a tração animal. Em 1900 a já mencionada "São Paulo a Santo Amaro", em conseqüência do declínio de seus serviços, foi liquidada e encampada pela "The São Paulo Tramway Light and Power", que estava começando a implantar vias eletrificadas na cidade. A concessão para bondes elétricos em São Paulo fôra assinada em 1897, em favor de Francisco Antônio Gualco e Antônio Augusto de Souza. Gualco residia no Canadá, e lá mesmo fundou, unindo-se a um grupo de empresários locais, a já citada Light de São Paulo. Em 7 de Abril de 1899 a carta-patente da empresa foi concedida pela Rainha Vitória, da Grã-Bretanha, de cuja jurisdição ultramarina fazia parte o Canadá. O bonde elétrico paulistano foi inaugurado em 7 de Maio de 1900, em linha que seguia à Barra Funda. Em 1901 a Light encampou, também, a Cia Viação Paulista, seguindo-se, gradualmente, a substituição da tração animal pela elétrica e a expansão das vias, com a criação de novas linhas. A última via de bondes a burro a ser eletrificada (1908) foi a de Santana, e a linha a vapor de Santo Amaro inaugurou o serviço elétrico em 7 de Julho de 1913, com carros do fabricante americano J. G. Brill, do tipo fechado. Antes da vinda dos bondes Brill de Santo Amaro, a Light, via de regra, construía seus próprios carros, importando somente os motores; a primeira chegada de carro elétrico estrangeiro deu-se, entretanto, em 1906, com a importação de um bonde de luxo, da fábrica americana St. Louis Car Co. Em 1913 foi construído o último carro de quatro rodas, e em 1917 foram postos em funcionamento, na Linha da Penha, os primeiros bondes de dois trucks (oito rodas), de fabricação Brill. Esses carros, que ganharam popularmente o nome da linha a que serviam (bondes "penha"), funcionaram até 1930. Em 1921 a Light iniciou nova fase de fabricação própria de material rodante, a começar pelos carros cujo modelo ficou conhecido pelo ano em que foi lançado (bondes "1921") e em 1925 surgiu o chamado tipo "Rio". Dois anos depois (1927) chegaram do Canadá os célebres "camarões", que se tornaram uma espécie de símbolo ou "marca registrada" do bonde paulistano, muito populares, cuja utilidade foi a de maior duração, pois funcionaram até à extinção dos bondes de São Paulo, ou seja, aproximadamente 40 anos de serviço. A cidade contava, então, com um extenso, numeroso e ativo sistema de bondes, de extrema utilidade para a população ("Em 1934 o número total de carros de passageiros era de 550 unidades para 228.274 Km de linha e para uma população de um milhão de habitantes" - HTUB - WCS - pág. 458), sobretudo durante a guerra de 1939/45, quando houve grande escassez de combustível, o que dava ao transporte elétrico a condição de necessidade primordial. Entretanto, a Light anunciou, em 1937, a decisão de não mais atuar na área do transporte coletivo, ficando estabelecido que, terminado o contrato em vigor até 17 de Julho de 1941, a empresa não o renovaria. Porém, em vista do problema da guerra, já mencionado, o governo federal emitiu decreto lei obrigando a Light a continuar no ramo. Com o fim da guerra (1945) revogou-se o decreto, e criou-se, em 1947, a "Companhia Municipal de Transportes Coletivos", a conhecida CMTC de São Paulo, destinada a assumir o serviço que a Light deixava. O sistema de bondes, porém, já vinha declinando, "devido à falta de peças e desinteresse total por esse sistema" (HTUB - WCS - pág. 459), a ponto de serem alguns carros encostados e desfalcados de peças para reposição em outros veículos. A CMTC, no entanto, agiu no sentido de revigorar o sistema, adquirindo novas unidades. Esses carros eram do tipo chamado "Centex", que serviam ao transporte coletivo em Nova Iorque, onde o serviço de bondes acabara de ser extinto. "Eram bondes modernos, com assentos estofados, grande parte dos comandos automáticos e o motorneiro trabalhava sentado, sendo prevista a cobrança de passagens pelo próprio motorneiro, sem necessitar de cobrador, mas esse sistema não foi usado em São Paulo." (HTUB - WCS - pág. 459). Ocorreu aumento do preço das passagens, que resultou em agitações populares e "quebra-quebras", estimulados, inclusive, por ex-proprietários de empresas de ônibus. Os resultados foram catastróficos, gerando escassez de transporte urbano, que foi apenas parcialmente remediada pelos serviços de restauração que seguiram. A invasão do transporte rodoviário a combustão interna estava em ação; os ônibus tomavam conta das ruas paulistanas ("mais poluição e menor número de passageiros por veículo e combustível importado" - HTUB - WCS - pág. 460). Vale reproduzir aqui, na íntegra, o desfecho da história do bonde paulistano, segundo o autor do livro: "Afinal, em março de 1968, no dia 27 é efetuada a viagem final, na última linha remanescente: a de Santo Amaro. Nesta linha, que servia como o atual pré-metrô, raramente havia congestionamento e foi retirada porque, como acontece principalmente nas Américas, era um obstáculo no caminho dos ‘grandes’ empreendimentos." (HTUB - WCS - pág. 460). O sistema paulistano de bondes foi um dos mais característicos e ativos do Brasil. É interessante observar que - exceto pela curta sobrevida da linha do Alto da Boa Vista e pela perpetuação do sistema de Santa Teresa - o tramway paulistano sobreviveu, por algum pouco tempo, ao do Rio de Janeiro. O conceito "progressista" que lega aos bondes a pecha de sistema "obsoleto" tem sua credibilidade um tanto abalada, se lembrarmos que São Paulo, cidade que se tornou o símbolo brasileiro do progresso e da industrialização, foi, dentre as metrópoles do País, na época da extinção generalizada dos bondes, a que por mais tempo os manteve.

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